sexta-feira, 8 de abril de 2016

Terramoto









João Soares, Ministro da Cultura, como se diz aqui por Nisa, "esticou-se": ameaçou Vasco Pulido Valente e Augusto M. Seabra, na sequência de crónicas publicadas no jornal "Público", com aplicação de umas "salutares bofetadas". Assim mesmo, com saborosa adjectivação. Quer-me parecer que anda a ler muito Eça de Queirós (leia-se "Os Maias"). Pena é o impropério ter sido escrito no FB e não gritado no Chiado ou no Passeio Público, e serem bofetadas e não bengaladas. 

Provavelmente pressionado pela opinião pública, ou "apertado" por António Costa, pediu desculpa. Atenção: não pediu desculpa pela ameaça, pediu desculpa por porventura os ter assustado. Será idiossincrasia ou bizantinismo da minha parte, mas uma coisa e outra são muito distintas. Imagino VPV e AMS a tremer que nem varas verdes, de susto e temor. Aliás, parece-me que até eu tremi um pouco e, deve ser a vista que me está a pregar partidas, parece-me até que a torre da igreja também estremeceu. Este é homem é um terramoto, é o que é!


Adenda 

João Soares apresentou esta manhã a sua demissão do cargo de Ministro da Cultura. António Costa não lhe deixou muita margem de manobra e, naturalmente (sic), aceitou a sua demissão.

Segundo João Soares, esta decisão é tomada  "(...) por razões que têm a ver com a minha profunda solidariedade com o Governo e o primeiro-ministro, e o seu projeto político de esquerda”. Acrescenta: "Demito-me também por razões que têm a ver com o meu respeito pelos valores da liberdade. Não aceito prescindir do direito à expressão da opinião e palavra”.

Não entendo a primeira justificação, absolutamente estúrdia no presente contexto, sendo a segunda reveladora de completa falta de arrependimento e profundamente hipócrita. Como pode alguém invocar o respeito pelos valores da liberdade e o direito à expressão de opinião quando ameaça com bofetadas quem mais não fez do que exercer esses mesmíssimos direitos?

De positivo no meio de toda esta salganhada: vamos em breve ter novo Ministro da Cultura, que esperemos o seja por merecimento próprio e ligação à área, ao invés de servir de moeda de troca de apoio político em escaramuças internas.
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imagem: wikipedia

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