sábado, 17 de novembro de 2012

Eu é que sou o presidente da junta...


Em notícia publicada no Jornal de Nisa, no passado dia 14, os presidentes das juntas do concelho de Nisa que irão ser eventualmente agregadas deram conta da sua preocupação e incerteza, nomeadamente devido à falta de informação sobre a forma como serão reorganizados os serviços prestados pelas novas freguesias.

Recordo que as novas freguesias a criar serão “União das Freguesias de Espírito Santo, Nossa Senhora da Graça e São Simão” e  a “União das Freguesias de Arez e Amieira do Tejo”. Recordo ainda que esta agregação depende unicamente do parecer da UTRAT, uma vez que a Assembleia Municipal de Nisa se pronunciou liminarmente e por unanimidade contra a extinção/agregação de qualquer freguesia.

Uma das frases que chamou a minha atenção, da autoria de Fernando Marquês, presidente da Junta de Freguesia do Espírito Santo, acusa o Governo e a UTRAT de “não ouvirem, nem quererem ouvir, as freguesias e as pessoas”. Curiosa afirmação da parte de quem, desde o início deste processo, se recusou a ouvir fosse que argumento fosse a favor da reforma, exigindo dos outros o que o próprio não pratica. Por outro lado, as freguesias ouviram a população? Quando? É que eu sou freguês do Espírito Santo e a mim ninguém me perguntou nada! Fernando Marquês aparenta ainda não ter lido a Lei 22/2012, porquanto remete para a UTRAT responsabilidades em questões que decorrem apenas desse diploma e que esta se limitou a aplicar, nomeadamente o facto de as pronúncias negativas das AM’s serem consideradas como não pronúncias. Discordar da Lei é legítimo, desobedecer-lhe não.

Outra questão, invocada tanto por Fernando Marquês como por Rogério Dias, presidente da Junta de Freguesia de Amieira do Tejo, tem a ver com a grande dimensão que as futuras freguesias irão ter, correndo o risco de se tornarem “ingovernáveis”, alegando que irá haver carência de meios materiais e humanos. Pergunto: os meios materiais que as juntas actualmente têm, em separado, são suficientes para fazer face aos seus compromissos? Pelos vistos, são. Estamos então perante um caso em que o todo será igual à soma das partes: os meios combinados das freguesias agregadas serão suficientes para assegurar o regular funcionamento das mesmas. A questão dos meios humanos é exactamente igual, a menos que se pretenda dispensar pessoal, e isso, volto a afirmar, não decorre da lei.

O fantasma da perda de serviços, pagamento de água e electricidade, posto de correio ou atendimento médico que, de facto, afectariam uma população maioritariamente idosa e com pouca mobilidade, volta a ser agitado. Mais uma vez pergunto: de que artigo na lei decorre a inevitabilidade desta situação? Por que razão terão de ser encerradas as instalações, já dotadas de pessoal e devidamente apetrechadas, das actuais juntas de freguesia? Por que razão não deverão aí continuar a ser prestados os serviços a que a população local hoje recorre?

Mais do que estes desgastados e bafientos argumentos, que não resistem a uma análise mais profunda, e noto que se deixaram cair as questões que se prendem com a história, cultura e tradições locais, incomoda-me realmente que os presidentes entrevistados não informem os seus fregueses de vários factos:

- os fregueses não são informados que as AM’s gozavam de flexibilidade que lhes permitia, de modo devidamente fundamentado, propor uma redução do número de freguesias até 20 % inferior ao número resultante da aplicação das percentagens genéricas;

- os fregueses não são informados que haverá reforço das competências próprias das freguesias, acompanhado do reforço das correspondentes transferências financeiras do Estado, calculadas no quadro da despesa histórica suportada pelo respetivo município no âmbito do seu exercício;

- os fregueses não são informados que, por força da decisão da AM de Nisa, as futuras freguesias não irão beneficiar de um aumento de 15%, na participação no Fundo de Financiamento das Freguesias (FFF), até ao final do mandato seguinte à agregação.

Em relação aos argumentos apresentados e aos omitidos, estamos conversados. Apenas recomendo aos senhores presidentes das juntas que, para melhor se informarem, consultem a Proposta de Lei 104/XII, a que, por outras razões, já anteriormente aludi. Talvez se devessem preocupar menos com os seus feudos e mais com o facto de se estar a preparar a criação de entidades executivas com poderes acima das autarquias, com o seu financiamento e com a falta de democraticidade da escolha de quem as irá, de modo generosamente remunerado, dirigir.

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