Evito ao máximo meter a foice em seara alheia. Em se tratando da esfera do sagrado, de religião, da religião
de cada um, das Igrejas, fujo disso a sete pés. Por duas razões: porque,
sendo agnóstico, não me compete opinar sobre práticas religiosas, e porque não
me meto em questões de fé, ponto a partir do qual o debate racional, do meu
ponto de vista, cessa. Dito isto, sempre que um acólito, seja de que religião
for, por maioria de razão em se tratando de alguém no topo da hierarquia, se
intromete na esfera do profano, passa a estar sujeito à minha opinião e à minha
crítica.
O Cardeal Patriarca de
Lisboa, D. José Policarpo, defendeu hoje em Fátima, falando da situação do
país, que “Não se resolve nada contestando, vindo para grandes manifestações”.
Mais afirmou que “A única coisa que neste momento é preocupante, é uma Democracia
que se define constitucionalmente como uma Democracia representativa, onde as
funções alternativas têm lugar próprio para serem apresentadas, e que neste
momento, está na rua”. Para D. José Policarpo “o que está acontecer é uma
corrosão da harmonia democrática da nossa Constituição e do nosso sistema
constitucional”.
É evidente que D. José Policarpo
nunca estudou Ciência Política nem Direito Constitucional: a Constituição da
República consagra, no seu artigo 21º, o Direito de Resistência, estipulando
que “Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus
direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão,
quando não seja possível recorrer à autoridade pública.”
D. José Policarpo caiu ainda
num erro muito comum: dedica-se à crítica gratuita, sem ideia de melhor
alternativa. Não, o que o preocupa é que o bom povo português, o povo temente a
deus e a césar, o povo obediente e silencioso, se esteja a afastar de ambos, e
a ganhar voz.
Das três duas: ou D. José
Policarpo tem uma solução para o país, que não enunciou, ou se avizinha novo
milagre de Fátima ou a coisa vai lá com missas, penitências e procissões de
desagravo. Em não se verificando nenhuma destas três hipóteses, seria melhor
que D. José Policarpo se preocupasse mais com os assuntos estritos que dizem
respeito à sua Igreja e menos com a saúde da Democracia portuguesa, ou que, em
fazendo-o, o faça enquanto cidadão e não enquanto líder religioso.
Tenho uma sugestão para D.
José Policarpo: proponha à Santa Sé a negociação da Concordata de 2004, de modo a
permitir que a Igreja Católica comece a pagar IMI e a ser tributada sobre os
contributos dos fiéis para o culto ou sobre a distribuição de publicações. Não
resolvia a crise, mas sempre era uma ajuda.
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foto daqui:www.jn.pt
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