sexta-feira, 12 de outubro de 2012

D. José Policarpo





Evito ao máximo meter a foice em seara alheia. Em se tratando da esfera do sagrado, de religião, da religião de cada um, das Igrejas, fujo disso a sete pés. Por duas razões: porque, sendo agnóstico, não me compete opinar sobre práticas religiosas, e porque não me meto em questões de fé, ponto a partir do qual o debate racional, do meu ponto de vista, cessa. Dito isto, sempre que um acólito, seja de que religião for, por maioria de razão em se tratando de alguém no topo da hierarquia, se intromete na esfera do profano, passa a estar sujeito à minha opinião e à minha crítica.

O Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, defendeu hoje em Fátima, falando da situação do país, que “Não se resolve nada contestando, vindo para grandes manifestações”. Mais afirmou que “A única coisa que neste momento é preocupante, é uma Democracia que se define constitucionalmente como uma Democracia representativa, onde as funções alternativas têm lugar próprio para serem apresentadas, e que neste momento, está na rua”. Para D. José Policarpo “o que está acontecer é uma corrosão da harmonia democrática da nossa Constituição e do nosso sistema constitucional”.

É evidente que D. José Policarpo nunca estudou Ciência Política nem Direito Constitucional: a Constituição da República consagra, no seu artigo 21º, o Direito de Resistência, estipulando que “Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública.”

D. José Policarpo caiu ainda num erro muito comum: dedica-se à crítica gratuita, sem ideia de melhor alternativa. Não, o que o preocupa é que o bom povo português, o povo temente a deus e a césar, o povo obediente e silencioso, se esteja a afastar de ambos, e a ganhar voz.

Das três duas: ou D. José Policarpo tem uma solução para o país, que não enunciou, ou se avizinha novo milagre de Fátima ou a coisa vai lá com missas, penitências e procissões de desagravo. Em não se verificando nenhuma destas três hipóteses, seria melhor que D. José Policarpo se preocupasse mais com os assuntos estritos que dizem respeito à sua Igreja e menos com a saúde da Democracia portuguesa, ou que, em fazendo-o, o faça enquanto cidadão e não enquanto líder religioso.

Tenho uma sugestão para D. José Policarpo: proponha à Santa Sé a negociação da Concordata de 2004, de modo a permitir que a Igreja Católica comece a pagar IMI e a ser tributada sobre os contributos dos fiéis para o culto ou sobre a distribuição de publicações. Não resolvia a crise, mas sempre era uma ajuda.
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foto daqui:www.jn.pt

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