segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Venha o diabo e escolha...

Um Pedro Passos Coelho com ar compungido, travestido de D. Egas Moniz, o Aio, a Troika substituindo-se a Afonso VII de Castela, anunciou ao povo que novas medidas de austeridade iriam ser aplicadas, na prossecução do Santo Graal neoliberal dos nossos dias, a meta do défice, custe o que custar, principalmente se a fatia mais grossa desse custo estiver do lado do aumento da receita pelo agravamento das taxas e impostos.
Pedro Passos Coelho é perigoso. Perigoso porque age com a convicção dos crentes, do alto da sua torre de marfim, certo da sua infalibilidade, da justeza e inevitabilidade do seu destino. Do mesmo modo que muitos políticos da nossa praça confundem falta de educação com irreverência, arruaça com cidadania, chicana política com argúcia, Pedro Passos Coelho confunde frontalidade com coragem. A sua postura, de quem se atreve a dar o corpo às balas, de dar a cara seja a que preço for (“Que se lixem as eleições, o que interessa é Portuga!”), não revela coragem, revela apenas a existência de uma agenda, a intenção de colher dividendos políticos. Pedro Passos Coelho dispôs de um inusitado e valiosíssimo capital de confiança pública e serenidade social durante largos meses. Esse capital extinguiu-se na noite de 7 de Setembro e, se alguém ainda tinha dúvidas acerca desse facto, as manifestações ocorridas no passado sábado vieram confirmá-lo.
Falemos agora de António José Seguro, Secretário-Geral do PS, suposto líder da Oposição. O que fez Seguro? Conhecendo o conteúdo da comunicação ao país de PPC (ainda que, segundo o próprio, apenas uma hora antes) convocou de imediato uma conferência de imprensa para nos dar a conhecer a sua posição e nos apresentar as suas alternativas? Não. Esperou seis dias, sem, de forma clara e inequívoca, se apresentar com soluções. E mesmo quando o fez, declarando-se indignado com o mesmo ar com que deve pedir tremoços na cervejaria, não se revelou à altura, não mostrou ser aquilo que se espera que seja, o líder da Oposição. Apresentou o mesmo discurso de sempre, no velho jogo do empurra e “da minha é maior que a tua” com que os políticos do bloco central nos vêm brindando nestes últimos 30 anos. Ameaçou com o chumbo do Orçamento e uma possível Moção de Censura, mas a única medida de aumento da receita pela diminuição da despesa que retive disse respeito às PPP’s, que, pasme-se, faz parte do discurso do Governo!
António José Seguro é perigoso. Perigoso, porque passa por ser aquilo que não é, fazendo-me lembrar um culturista de músculos inchados e ar feroz, com aspecto de pugilista peso-pesado, mas incapaz de dar um soco de jeito. António José Seguro é, continuando com a analogia boxista, um mero peso-mosca, que circunstancialmente se encontra na arena maior da cena política nacional. O título de Líder da Oposição deveria ser conquistado, merecido, não atribuído. Quando a crítica mais contundente e que mais mossa fez ao PSD vem de Paulo Portas, líder do outro partido da coligação do Governo, isso diz de Seguro que este não passa de uma miragem de alternativa.

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