sábado, 15 de setembro de 2012

Amanhã, não me venham dizer...

 
 

Amanhã, não me venham dizer que a vida está má, que isto está uma desgraça, que ninguém faz nada, que devia haver uma revolução, que não há quem ponha mão nisto, e todas as outras coisas que me costumam dizer, de dedo em riste e expressão indignada, espuma ao canto da boca.
Amanhã, não me venham dizer que não sabiam de nada, que perceberam mal a hora, que confundiram 17 com 7, que estiveram lá mas ainda não tinha chegado ninguém, que estavam ocupados em afazeres inadiáveis e muiiiito importantes.
Amanhã, não me venham dizer que não vale a pena, que não adianta de nada, que nunca conseguiremos, que lutamos contra moinhos de vento, que isto nunca vai mudar.
Amanhã, não me venham dizer nada disso. Passem ao largo e baixem o rosto. Porque eu vi-vos. Vi-vos de copo na mão na esplanada, vi-vos lambendo gelados, vi-vos passando devagar de carro, vi-vos deambulando de cá para lá, vi-vos indiferentes, alheados, sarcásticos, mordazes.
Eu sei, eu vi-vos, porque eu estive lá!
 

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