Amanhã, não me venham dizer que a
vida está má, que isto está uma desgraça, que ninguém faz nada, que devia
haver uma revolução, que não há quem ponha mão nisto, e todas as outras coisas que
me costumam dizer, de dedo em riste e expressão indignada, espuma ao canto da
boca.
Amanhã, não me venham dizer que
não sabiam de nada, que perceberam mal a hora, que confundiram 17 com 7, que
estiveram lá mas ainda não tinha chegado ninguém, que estavam ocupados em
afazeres inadiáveis e muiiiito importantes.
Amanhã, não me venham dizer que
não vale a pena, que não adianta de nada, que nunca conseguiremos, que lutamos
contra moinhos de vento, que isto nunca vai mudar.
Amanhã, não me venham dizer nada
disso. Passem ao largo e baixem o rosto. Porque eu vi-vos. Vi-vos de copo na
mão na esplanada, vi-vos lambendo gelados, vi-vos passando devagar de carro,
vi-vos deambulando de cá para lá, vi-vos indiferentes, alheados, sarcásticos,
mordazes.
Eu sei, eu vi-vos, porque eu estive
lá!
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