Vem esta crónica a propósito de uma notícia que ontem vi na televisão, a entrega do “Prémio Nacional de Professores”, atribuído a Alexandre Costa, professor de Físico-química da Escola Secundária de Loulé, que disse, falando da sua relação com os alunos, e cito, “não sou amigo nem fixe”. Continuou afirmando ainda: "Os meus alunos e eu temos uma relação de grande empatia no trabalho, mas não é de amizade. Não sou amigo no sentido em que eles são amigos dos seus colegas adolescentes. Sou tão amigo quanto um pai ou um educador pode ser".
A minha geração e as que se lhe seguiram foram marteladas, se me permitem o termo, com o conceito de que um pai deve ser amigo dos filhos e, acima de tudo, um “gajo porreiro”. Durante anos, numa tendência que me parece estar a mudar, ouvimos e lemos psicólogos e pedagogos forçando a passagem desta ideia. E à medida que nos fomos tornando pais, e quem tem filhos sabe da dificuldade que é educar um, porque nada nem ninguém nos prepara para isso, vamos aprendendo por tentativa e erro, alguns de nós esqueceram-se do que significa, na essência, ser pai ou mãe.
Naquelas costumeiras “sessões de esclarecimento” que tenho regularmente com o meu filho adolescente, em que ele reclama porque eu não lhe permito isto ou aquilo, ou porque não tem o direito a ter opinião, costumo dizer-lhe duas coisas:
Primeira - Cá em casa não vigora a democracia. Vivemos em ditadura, e quem impõe as normas sou eu e a mãe. Tem direito a ter opinião, incentivo-o a emiti-la, mas nada me obriga a segui-la.
Segunda - A minha responsabilidade primeira para com ele é ser pai. Se nesse processo pudermos ser amigos, muito bem, se não, tanto pior.
Ser pai não é ceder a todos os caprichos dos nossos filhos, não é ficar com remorsos porque o ele ou ela nos disseram “o pai de fulano deixa e tu não”, não é estarmos na permanente dúvida, induzida pelas tais teorias de certos psicólogos e pedagogos, se o que fizemos está certo ou errado. Como em qualquer outra liderança, o caminho para o fracasso começa na dúvida e na hesitação. Devemos ser justos, incentivar e premiar, com palavras e gestos, mas devemos também ser firmes.
Não sabendo muito bem como agir, com o nosso tempo disponível para a família em clara diminuição, muitas vezes, e cada vez mais, sem a âncora que era a presença dos avós, alguns de nós pretenderam descarregar as suas responsabilidades nos ombros dos professores.
E caiu-se no ridículo de se esperar que o professor fosse pedagogo, psicólogo, amigo, pai. Disse em crónica anterior que ser professor é cada vez menos uma vocação e cada vez mais uma saída profissional como tantas outras, à procura do porto seguro que costumava ser a Função Pública. Retomo este pensamento para reforçar a ideia de que boa parte dos nossos professores não está hoje vocacionada para estabelecer e manter laços afectivos com os seus alunos. Mas ainda que essa predisposição exista, não é função do professor substituir pai e mãe: educar é, em primeiro lugar, responsabilidade e obrigação dos pais. Compete a estes a transmissão de valores éticos e morais fundamentais, do sentido de responsabilidade, de comportamentos e normas. Ao professor, apetrechado com competências pedagógicas e académicas, compete a transmissão de um conjunto de conhecimentos especializados, uma arte, uma técnica, que os pais não dominam, e que preparam os nossos filhos para a vida profissional. Tão só e nada mais do que isto.
Louvo a coragem deste professor que, contracorrente e sem receio, assim expôs a sua opinião e vivência pedagógica. Assim fizessem todos. E vai sendo tempo de certas teorias serem repensadas.
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imagem daqui: http://blogdojuazeiro.blogspot.com
2 comentários:
Gostei muito do exposto, no teu comentário, partilho a 100%.
Precisamente por isso, existem tantos (as) frustrados na nossa sociedade, serviços prestados de de péssima qualidade e porquê?? Falta de vocação....então no que diz respeito à Educação e Saúde, é de bradar aos céus ". Como é óbvio há excepções, que Deus nos livre não houvessem!!!!!!!
Gostei do que li e fiquei a pensar que tipo de mãe fui eu...
o melhor que soube eu sei que fui, empenhada, tentando cumprir regras básicas, mas será que foi o suficiente?
Educar é uma permanente angústia, só no futuro é que poderemos ver o resultado dos nossos actos.
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