quinta-feira, 11 de agosto de 2005

Os dias da Aventura


De 15 em 15 dias, às quintas-feiras, chegava o furgão Citröen cinzento, de chapa ondulada, da Biblioteca Itinerante da Gulbenkian, carregadinho de livros e sonhos. 5 livros por quinzena, os de fita adesiva verde. Duras negociações com o Sr. Horácio, levaram-me a convencê-lo de que era rapazinho atinado e responsável e chegamos a um compromisso: 8 livros e as fitinhas poderiam ser amarelas e até mesmo laranja, sujeitas embora à prévia vistoria do censor. Nesse dia esquecia a bola, as escapadelas até ao rio e as cerejas do quintal do vizinho. Esperavam-me os tigres de Salgari, os vultos na névoa de Simenon, as travessuras de Twain, o futurismo de Verne, mas, acima de tudo, as aventuras de "Os Cinco", os meus preferidos por essa época.
Os dias da amizade para sempre a troco de uma chuinga. Os dias de escolher quadrilha e esconderijo, de arranjar lanternas e cordas, de procurar um cão sem dono para adoptar, porque sim, uma quadrilha precisa de um fiel amigo de quatro patas. Obscuras minas de água num ápice transformadas em misteriosas grutas a explorar, qualquer restinga de areia no meio do rio ganhava pergaminhos de inexpugnável ilha, todos os tostões amealhados para comprar laranjadas e gasosas e fazer piqueniques no meio da serra, entre urze e granito, longe de tudo mas principalmente longe do olhar dos adultos.
Os dias da aventura.
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Enid Blyton nasceu a 11 de Agosto de 1897
e faleceu a 28 de Novembro de 1968.


6 comentários:

Madalena disse...

Os Cinco pertencem mesmo às nossas vidas.... Um beijinho grande.

Margarida Bonvalot disse...

Ai esses Cinco! Devorei-os na idade de devorar literatura dessa, mas (e aqui me confesso...) bem mais tarde, já com filhos pequenos, comprei a colecção com o pretexto de que eram para os miudos, mal soubessem soletrar. E entretanto, no meio de leituras mais "sérias", que bem me soube recordar aquelas aventuras!...

Carlos Gil disse...

Aqui outro fã dos 'Cinco'... que coleccionei comprando muitos nas antigas lojas de livros usados, "trazes dois, levas um", e até o meu pai (contam-me) trazia no bolso a lista dos nºs que me faltavam...
(Também li alguns dos 'os sete' mas nunca me entusiasmaram)

Luisa Hingá disse...

Também não perdi nenhum dos Cinco, da Condessa de Ségur, do Max do Veuzit, Magali...(estes eram os que havia em António Enes...)

Obrigada biblioteca da Guarda, Carrinha da Gulbenkian, que ajudaram na minha formação.

Quando estive em Espungabera reli tudo que podia apanhar...o meu pai adorava ler e eu lia tudo...mas não havia lá

Anónimo disse...

Espungabera, copy-past: nunca tinha ouvido este nome, fantástico!
Oh, Guida, eu tb reli um (o que pus a capa no meu post), mas confesso que até tive dificuldade em acabar... E os scones dos sete não tinham sabor, Gil, tens razãp. Tb li os seis, dela tb, mas já eram maiorzinhos...Viva os Cinco!, beijo a todos, IO.

Cine-clube Komba Kanema disse...

A recente passagem por Maputo de um navio-livraria deixou-me espantado com a quantidade de livros que a Enid escreveu. Além dos 5 e dos 7 ela tinha mais dezenas de títulos, aparentemente todos do mesmo tipo de histórias.
Na época própria fui fã dos 5. Os 7 já não achei tanta piada.
Agora não perco o Harry Potter. Comecei a ler o recém saido.

Machado