Se eu fosse médico e me
fosse pedido o diagnóstico do concelho de Nisa, a resposta seria pronta e
fácil, sem necessidade de exames complementares: depressão aguda.
Sendo um concelho
periférico, com um decrescimento populacional acentuado, sem condições para
atrair grandes investimentos, mal servida por vias de acesso e um tecido
empresarial débil, condições já de si suficientes para gerar tal depressão,
esta foi agravada pela falta de visão estratégica para o desenvolvimento
concelhio, com sucessivos executivos camarários a navegarem à vista, apenas
dando, aqui e ali, cosméticas pinceladas de cor no cinzentismo que nos governa.
Desde que resido no concelho,
e já lá vão dez anos, fui ouvindo dos responsáveis autárquicos que o futuro do
concelho passava pelo investimento no turismo. Concordei quando pela primeira
vez ouvi essa tese, ciente das limitações que acima referi, e continuo a crer
que este é, de facto, o único caminho possível. Lamentavelmente, não se passou
da tese aos actos.
Os dois grandes projectos
estruturantes desenvolvidos no concelho falam por si: Albergaria Penha do Tejo
e Complexo Termal da Fadagosa de Nisa. Dois investimentos que custaram ao
erário público muitos milhões de euros, obrigando o município a recorrer à
banca e a contrair avultadas dívidas de médio e longo prazo, hipotecando o
investimento noutras áreas, mas que poucos ou nenhuns frutos deram. A
Albergaria encerrou, foi saqueada e vandalizada, não passa de uma ruína em
contínua degradação, sem que se apurem responsabilidades, enquanto a Ternisa
está em fase de liquidação, representando um custo acrescido de cerca de meio
milhão de euros por ano para os cofres do município.
Dois projectos, duas grandes
apostas do município, dois rotundos falhanços! Quais foram as causas? Quem é
culpado? Curiosamente, ainda na última Assembleia Municipal, passados vários
anos sobre o encerramento da Albergaria e perante a erosão diária da Ternisa,
diziam alguns eleitos municipais desconhecer as razões para tal insucesso. Das três,
uma: não querem saber, sabem mas assobiam para o lado, ou não sabem mesmo e
então, pergunto eu, que raio fazem na Assembleia Municipal?
Aqueles que pareciam ser
projectos estruturantes não passaram na realidade de medidas avulsas, cheias de
boas intenções, é certo, mas descuradas a montante e a jusante, como algo que
se planta sem previamente lavrar e adubar o terreno, não assegurando depois a
rega, esperando que a chuva resolva o assunto. Enquanto se punham todos os ovos
no mesmo cesto, com decisões baseadas em estudos de viabilidade económica de
duvidosa seriedade, outros projectos, com capacidade de atracção turística e
capazes de se constituírem como âncora de um desenvolvimento sustentado, como o
Centro de Interpretação do Conhal do Arneiro, o Centro de Interpretação de Arte
Rupestre de Montalvão ou a Casa da Pedra, em Alpalhão, foram ficando para as
calendas gregas, sem que se vislumbre a sua concretização.
Dou-vos outro exemplo de
vistas curtas: o rio Tejo corre ao longo do concelho de Nisa durante cerca de 42km,
entre a barragem de Cedillo e a ribeira de Alferreireira, tendo aí sido
implantados 4 cais flutuantes, para embarcações de média dimensão (junto à
barragem do Fratel, no Arneiro, nas Portas de Ródão e no Chão da Velha), algo
que, estou seguro, a grande maioria dos nisenses desconhece, já para não falar de
outros eventuais interessados na sua utilização. Implantaram-se os cais, mas onde
se coloca uma embarcação na água, em condições de segurança, no concelho de
Nisa? Como resultado, temos uma infraestrutura de que apenas os pescadores
locais se servem (já agora diga-se que sem grande civismo, ocupando-os de modo
desorganizado e impossibilitando ou dificultando a atracagem de outras
embarcações), ou seja, mais um investimento avulso e inconsequente, mais
desperdício de dinheiros públicos, sem criação de mais-valias, enquanto o
concelho continua de costas voltadas para o rio.
De quem se candidatar às
próximas eleições autárquicas esperam-se respostas para estas questões,
espera-se a definição de uma linha estratégica de desenvolvimento concelhio,
consequente e exequível. Espera-se seriedade na análise dos problemas e
celeridade na sua resolução. O que se não espera nem deseja são as costumeiras
trocas de acusações e promessas vãs, a costumeira guerrilha partidária, de
gente mais preocupada com o seu umbigo e a sua promoção pessoal do que com o
destino dos nisenses. Talvez assim, e friso o talvez, dadas as limitações
conjunturais, se consiga que o paciente melhore e encare o futuro com mais
optimismo. Enquanto isso, as pessoas continuam a passar por Nisa e até param…
para perguntar onde ficam Castelo de Vide ou Marvão!
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