No dia 21 de Novembro de
2008, ao tomar conhecimento do desaparecimento do Jornal de Nisa, então
dirigido por Mário Mendes, não pude deixar de comentar o sucedido. Desse
desabafo destaco algumas linhas:
“Cá na terra havia um jornal. Coisa escorreita e despretensiosa, formato
comedido e espessura a condizer, um jornal como deve ser, para mim, que estou
ainda com uma mão no século passado, folheando papel, e outra no século
presente, portátil à frente.
Por
ali se iam contando as novidades do Concelho e arrabaldes, nos chegavam
alegrias e mágoas de Nisenses na diáspora, nos eram oferecidos artigos de
opinião sobre tudo e mais alguma coisa, colunas sobre a nossa história e
património, a inevitável necrologia, assunto grave e circunspecto, entremeado
de bodas de ouro e festas de artilheiros, que a vida são dois dias mas o
Carnaval são três. (…) Continuo a achar, se calhar e nos tempos que correm, um
pouco contracorrente, que o desenvolvimento de um povo é directamente
proporcional ao seu nível cultural. Tenho também para mim que a existência e a
leitura de jornais são um bom índice de medida desse nível.”
Algum tempo depois, o título
foi adquirido pela ADN e o Jornal de Nisa voltou a ser publicado. Fui convidado
pela Directora Ana Aldeia a juntar-me ao projecto em finais de 2009 (depois de
um convite inicial, da anterior Direcção, que recusei, por razões que aqui não
cabem), convite que abracei de alma e coração, traduzido na publicação da
coluna de opinião intitulada “Mala de Porão”, pela primeira vez dada à estampa
em Março de 2010.
Há algum tempo alertado para
a possibilidade, pouco depois confirmada, da interrupção da publicação do
Jornal, que por razões éticas mantive em segredo, todos tomamos conhecimento
oficial desse facto, na edição nº 41, II Série, publicada no passado dia 5 de Outubro, em
comunicado da Direcção da ADN, assinado pelo Dr. Paulo Felício, Gestor
do Jornal de Nisa. Não pude deixar de reparar no facto de o último Jornal de
Nisa ter sido publicado no dia em que, também pela última vez, se celebrava o
Dia da República.
Voltando ao Jornal, interrogo-me
sobre o porquê da sua suspensão. Comecemos pelo início, o que significa começarmos
pela ADN. Esta Associação de Desenvolvimento Local, que se queria contribuísse de
forma relevante para o desenvolvimento do concelho, cedo ficou ferida de morte.
Pelo facto de depender, em larga medida, financeira e conceptualmente, da CMN, por
algum nepotismo existente no seu arranque, por uma comunicação deficiente do
seu objecto e objectivos, gerou anticorpos em alguns sectores da sociedade
nisense, cedo transpostos para a edilidade. Esta má vontade para com a
Associação estendeu-se ao Jornal, mesmo após as mudanças havidas a nível dos
Órgãos Sociais e à alteração dos Estatutos.
Por outro lado, a evolução da
situação económica que o país atravessa, não deixou de ter reflexos na situação
financeira do Jornal, conforme afirma o Dr. Paulo Felício, dizendo que “À falta de procura de publicidade por parte
dos agentes económicos, bem como de publicações obrigatórias, cada vez em menor
número, conjugadas com as dificuldades económicas que todas as instituições
hoje atravessam, ditaram a impossibilidade da sua continuidade”.
Temos então um Jornal que
não agradava a parte da “intelligentzia”
nisense, e que por isso foi objectivamente prejudicado, que agora soçobra por
razões económicas. Dito assim, parece simples. Tenho para mim que a resposta
não é tão simplista.
O Dr. Paulo Felício, que de
facto surge na Ficha Técnica do Jornal enquanto Gestor, sendo esta a primeira
(e lamentável) ocasião em que dá a cara pelo projecto, alguma vez agiu enquanto
tal, alguma vez procurou soluções para a viabilização e continuidade do Jornal?
Alguma vez ouviu quem nele trabalhava ou colaborava, em busca de alternativas?
Que eu tenha conhecimento, e pela parte que me toca, não. Não posso ainda
deixar de criticar a afirmação de que os agentes económicos não procuram
publicitar no Jornal. Caro Dr. Paulo Felício: quem quer bolota, trepa! Ter um departamento
de Publicidade que se limita a um papel passivo é o mesmo que não ter nenhum.
Sei do que falo: nos anos 80 angariei publicidade para uma estação de Rádio e
bati a muitas portas! Mas vendi, e esta é a palavra-chave, vender, muito tempo
de antena. Vender não é estar passivamente sentado à espera que o telefone
toque, é arregaçar as mangas e sair para a rua, ir de porta em porta, atrair
clientes. A sua afirmação soa assim, como se diz cá na terra, a conversa mole
para boi dormir. Que fique bem claro que não quero com isto personalizar esta questão, e muito menos transformar o Dr. Paulo Felício em bode
expiatório do que quer que seja, até porque deve ter sido empurrado para esta
função, ficando com o menino nos braços, percebendo tanto de gestão, imprensa e jornais,
como eu de lagares de azeite.
O Jornal irá manter-se, pelo menos por enquanto, em suporte informático. Esperemos que o apelo deixado
pelo Dr. Paulo Felício, de haver alguém que, a nível interno ou externo, se
interesse pela continuação e/ou renovação do Jornal, colha frutos.
Uma última palavra, para agradecer
a todos os que, de alguma forma colaboraram, a título gracioso, com o Jornal de
Nisa, com particular destaque para a sua Directora, Ana Aldeia, bem como para
todos os funcionários da ADN associados a este projecto, particularmente a
Teresa Melato e o Hugo Mendonça.
Sem comentários:
Enviar um comentário