segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Cá na terra... havia um Jornal - II

 
 
 

No dia 21 de Novembro de 2008, ao tomar conhecimento do desaparecimento do Jornal de Nisa, então dirigido por Mário Mendes, não pude deixar de comentar o sucedido. Desse desabafo destaco algumas linhas:
“Cá na terra havia um jornal. Coisa escorreita e despretensiosa, formato comedido e espessura a condizer, um jornal como deve ser, para mim, que estou ainda com uma mão no século passado, folheando papel, e outra no século presente, portátil à frente.
Por ali se iam contando as novidades do Concelho e arrabaldes, nos chegavam alegrias e mágoas de Nisenses na diáspora, nos eram oferecidos artigos de opinião sobre tudo e mais alguma coisa, colunas sobre a nossa história e património, a inevitável necrologia, assunto grave e circunspecto, entremeado de bodas de ouro e festas de artilheiros, que a vida são dois dias mas o Carnaval são três. (…) Continuo a achar, se calhar e nos tempos que correm, um pouco contracorrente, que o desenvolvimento de um povo é directamente proporcional ao seu nível cultural. Tenho também para mim que a existência e a leitura de jornais são um bom índice de medida desse nível.”
Algum tempo depois, o título foi adquirido pela ADN e o Jornal de Nisa voltou a ser publicado. Fui convidado pela Directora Ana Aldeia a juntar-me ao projecto em finais de 2009 (depois de um convite inicial, da anterior Direcção, que recusei, por razões que aqui não cabem), convite que abracei de alma e coração, traduzido na publicação da coluna de opinião intitulada “Mala de Porão”, pela primeira vez dada à estampa em Março de 2010.
Há algum tempo alertado para a possibilidade, pouco depois confirmada, da interrupção da publicação do Jornal, que por razões éticas mantive em segredo, todos tomamos conhecimento oficial desse facto, na edição nº 41, II Série, publicada no passado dia 5 de Outubro, em comunicado da Direcção da ADN, assinado pelo Dr. Paulo Felício, Gestor do Jornal de Nisa. Não pude deixar de reparar no facto de o último Jornal de Nisa ter sido publicado no dia em que, também pela última vez, se celebrava o Dia da República.
Voltando ao Jornal, interrogo-me sobre o porquê da sua suspensão. Comecemos pelo início, o que significa começarmos pela ADN. Esta Associação de Desenvolvimento Local, que se queria contribuísse de forma relevante para o desenvolvimento do concelho, cedo ficou ferida de morte. Pelo facto de depender, em larga medida, financeira e conceptualmente, da CMN, por algum nepotismo existente no seu arranque, por uma comunicação deficiente do seu objecto e objectivos, gerou anticorpos em alguns sectores da sociedade nisense, cedo transpostos para a edilidade. Esta má vontade para com a Associação estendeu-se ao Jornal, mesmo após as mudanças havidas a nível dos Órgãos Sociais e à alteração dos Estatutos.
Por outro lado, a evolução da situação económica que o país atravessa, não deixou de ter reflexos na situação financeira do Jornal, conforme afirma o Dr. Paulo Felício, dizendo que “À falta de procura de publicidade por parte dos agentes económicos, bem como de publicações obrigatórias, cada vez em menor número, conjugadas com as dificuldades económicas que todas as instituições hoje atravessam, ditaram a impossibilidade da sua continuidade”.
Temos então um Jornal que não agradava a parte da “intelligentzia” nisense, e que por isso foi objectivamente prejudicado, que agora soçobra por razões económicas. Dito assim, parece simples. Tenho para mim que a resposta não é tão simplista.
O Dr. Paulo Felício, que de facto surge na Ficha Técnica do Jornal enquanto Gestor, sendo esta a primeira (e lamentável) ocasião em que dá a cara pelo projecto, alguma vez agiu enquanto tal, alguma vez procurou soluções para a viabilização e continuidade do Jornal? Alguma vez ouviu quem nele trabalhava ou colaborava, em busca de alternativas? Que eu tenha conhecimento, e pela parte que me toca, não. Não posso ainda deixar de criticar a afirmação de que os agentes económicos não procuram publicitar no Jornal. Caro Dr. Paulo Felício: quem quer bolota, trepa! Ter um departamento de Publicidade que se limita a um papel passivo é o mesmo que não ter nenhum. Sei do que falo: nos anos 80 angariei publicidade para uma estação de Rádio e bati a muitas portas! Mas vendi, e esta é a palavra-chave, vender, muito tempo de antena. Vender não é estar passivamente sentado à espera que o telefone toque, é arregaçar as mangas e sair para a rua, ir de porta em porta, atrair clientes. A sua afirmação soa assim, como se diz cá na terra, a conversa mole para boi dormir. Que fique bem claro que não quero com isto personalizar esta questão, e muito menos transformar o Dr. Paulo Felício em bode expiatório do que quer que seja, até porque deve ter sido empurrado para esta função, ficando com o menino nos braços, percebendo tanto de gestão, imprensa e jornais, como eu de lagares de azeite.
O Jornal irá manter-se, pelo menos por enquanto, em suporte informático. Esperemos que o apelo deixado pelo Dr. Paulo Felício, de haver alguém que, a nível interno ou externo, se interesse pela continuação e/ou renovação do Jornal, colha frutos.
Uma última palavra, para agradecer a todos os que, de alguma forma colaboraram, a título gracioso, com o Jornal de Nisa, com particular destaque para a sua Directora, Ana Aldeia, bem como para todos os funcionários da ADN associados a este projecto, particularmente a Teresa Melato e o Hugo Mendonça.


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