sexta-feira, 29 de junho de 2012

Direitos

Recebi de uma amiga por correio electrónico, no início desta semana, a minuta de uma carta cuja origem desconheço mas que vem circulando na internet, destinada à Presidente da Câmara Municipal, a propósito da moção apresentada pelo PS concelhio, que visa classificar a Tauromaquia como Património Cultural Imaterial em Nisa. Na dita minuta solicita-se à Presidente que, e cito, “…não permita que uma actividade cruel, sangrenta e ultrapassada como é a tourada possa encontrar palco em Nisa…”. Correndo o risco de, aos olhos de alguns, me transformar num energúmeno insensível aos direitos dos animais e ao seu sofrimento, não assinei nem assinarei nunca uma petição deste tipo.

Não gosto particularmente de touradas. Criado longe de Portugal, vi a minha primeira tourada com 12 ou 13 anos. Desde logo me encantou o espectáculo proporcionado por cavaleiros e cavalos (o nosso fantástico Cavalo Lusitano!), a destreza dos toureiros e bandarilheiros, a bravura dos forcados. Mas aquela parte de ver o touro, animal altivo e nobre, fisicamente esgotado e coberto de sangue, nunca deixou de me impressionar pela negativa. Ainda hoje, e por mim, as touradas poderiam ser apenas exibições da arte de bem cavalgar e festivais de pegas.
Gosto muito de animais. Sou incapaz de fazer mal a um bicho que não venha com intenções de me fazer mal a mim. No entanto, criado em ambiente rural, fui desde tenra idade habituado a matar animais destinados à nossa alimentação. A matar, não a ver matar, algo que nunca me causou engulhos de espécie alguma. Fui também habituado a, perante o sofrimento de um animal, por doença ou acidente, pôr termo à sua vida o mais rapidamente possível.
Dito isto, acrescento que não sou a favor nem contra as touradas: se dependesse apenas de mim passaria bem sem elas, embora reconheça o seu valor enquanto acto cultural tradicional. Sou, isso sim, a favor do direito das pessoas que gostam de touradas o poderem exercer. Quem não gosta não pode querer impor, normalmente com um discurso insultuoso e extremista, a sua vontade aos outros.
PS: já hoje, ao folhear o Jornal de Nisa, lendo a coluna aí reservada ao PS de Nisa, fui surpreendido pelo teor da mesma, da lavra do Presidente da Concelhia, Marco Oliveira, que, depois de defender a moção do seu partido, termina em homofóbico tom de mau gosto, nos seguintes termos: “… há ainda aqueles que consideram que ver dois homens no meio da rua, aos beijos na boca, é muito mais natural do que ir com a família ver uma boa corrida de touros.” Caro Marco Oliveira: se tem algum problema com os homossexuais isso é questão do seu foro privado, que respeito. Escrevê-lo enquanto Presidente da Concelhia do PS de Nisa, o mesmo PS que, recordo-o, propôs e votou a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, já me parece descabido e inoportuno.

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