Recebi de uma amiga por
correio electrónico, no início desta semana, a minuta de uma carta cuja origem
desconheço mas que vem circulando na internet, destinada à Presidente da Câmara
Municipal, a propósito da moção apresentada pelo PS concelhio, que visa classificar
a Tauromaquia como Património Cultural Imaterial em Nisa. Na dita minuta solicita-se
à Presidente que, e cito, “…não permita que uma actividade cruel, sangrenta e
ultrapassada como é a tourada possa encontrar palco em Nisa…”. Correndo o risco
de, aos olhos de alguns, me transformar num energúmeno insensível aos direitos
dos animais e ao seu sofrimento, não assinei nem assinarei nunca uma petição
deste tipo.
Não gosto particularmente de
touradas. Criado longe de Portugal, vi a minha primeira tourada com 12 ou 13
anos. Desde logo me encantou o espectáculo proporcionado por cavaleiros e
cavalos (o nosso fantástico Cavalo Lusitano!), a destreza dos toureiros e
bandarilheiros, a bravura dos forcados. Mas aquela parte de ver o touro, animal
altivo e nobre, fisicamente esgotado e coberto de sangue, nunca deixou de me
impressionar pela negativa. Ainda hoje, e por mim, as touradas poderiam ser
apenas exibições da arte de bem cavalgar e festivais de pegas.
Gosto muito de animais. Sou
incapaz de fazer mal a um bicho que não venha com intenções de me fazer mal a
mim. No entanto, criado em ambiente rural, fui desde tenra idade habituado a
matar animais destinados à nossa alimentação. A matar, não a ver matar, algo
que nunca me causou engulhos de espécie alguma. Fui também habituado a, perante
o sofrimento de um animal, por doença ou acidente, pôr termo à sua vida o mais
rapidamente possível.
Dito isto, acrescento que não
sou a favor nem contra as touradas: se dependesse apenas de mim passaria bem
sem elas, embora reconheça o seu valor enquanto acto cultural tradicional. Sou,
isso sim, a favor do direito das pessoas que gostam de touradas o poderem exercer.
Quem não gosta não pode querer impor, normalmente com um discurso insultuoso e
extremista, a sua vontade aos outros.
PS: já hoje, ao folhear o
Jornal de Nisa, lendo a coluna aí reservada ao PS de Nisa, fui surpreendido
pelo teor da mesma, da lavra do Presidente da Concelhia, Marco Oliveira, que,
depois de defender a moção do seu partido, termina em homofóbico tom de mau
gosto, nos seguintes termos: “… há ainda aqueles que consideram que ver dois
homens no meio da rua, aos beijos na boca, é muito mais natural do que ir com a
família ver uma boa corrida de touros.” Caro Marco Oliveira: se tem algum
problema com os homossexuais isso é questão do seu foro privado, que respeito. Escrevê-lo
enquanto Presidente da Concelhia do PS de Nisa, o mesmo PS que, recordo-o,
propôs e votou a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, já me parece
descabido e inoportuno.
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