Numa eleição presidencial ou se ganha ou se perde. Em Portugal, ficar em segundo, à excepção das eleições de 1986, onde houve segunda volta, foi sempre ser o primeiro dos últimos. Hoje, de novo, tudo o que acabei de dizer se confirmou, como se confirmou também que a esquerda nacional é burro velho que se recusa a aprender línguas.
Nesta eleição em particular todos perderam. Todos perderam porque quem venceu foi a abstenção, a atingir um valor recorde em presidenciais de 53,37%. Se a este valor acrescentarmos 4,26% de votos em branco e 1,93% de votos nulos, temos que 59,56% dos portugueses não votaram em ninguém. Ou seja, uma boa parte dos eleitores entendeu que esta eleição não merecia a sua deslocação a uma secção de voto, outra, cumprindo o seu dever cívico, optou por não votar em nenhum candidato e houve ainda aqueles que aproveitaram os boletins de voto para descarregar a sua frustração. Se pensarmos que nas últimas eleições legislativas, em 2009, este valor somado atingiu os 43,41% e que nas autárquicas, também em 2009, atingiu os 43,92%, soam a ridículo todas as declarações de vitória. É tempo de a classe política nacional entender que as regras do jogo foram alteradas, que o povo português está saturado, farto de vendedores de sonhos e mercadores de promessas.
Apesar disto, quase todos os candidatos, na noite de ontem, clamavam ter ganho alguma coisa. Cavaco Silva declarava retumbante vitória, Fernando Nobre, o candidato da “vendetta” particular da família Soares idem, Francisco Lopes, o candidato a candidato de Secretário-Geral do PCP, ibidem, até José Coelho dava um arzinho da sua graça. Pelos vistos, perdedores foram só Manuel Alegre e Defensor Moura. Presunção e água benta, cada qual toma a que quer.
Mau, mas mesmo muito mau, miserável mesmo, mesquinho, foi o discurso de Cavaco Silva. Não lhe chegando a falta de elegância ao não cumprimentar os adversários, fez pior, ao bater em quem já estava caído. Num discurso que se esperava de apelo à unidade nacional, terminada a refrega eleitoral, e porque a crise não se esfumou neste interregno, tivemos acusações aos adversários da véspera e críticas à comunicação social, perante o olhar embevecido de Maria.
Também muito má foi a resposta da Comissão Nacional de Eleições, perante os problemas que se depararam a muitos eleitores que tentaram votar utilizando o Cartão do Cidadão, o tal que nos ia simplificar a vida, um pouco por todo o país. Sabendo todos nós que a maioria dos organismos públicos não dispõe de equipamento que lhe permita a leitura do “chip” do cartão, onde está contida boa parte da informação, não foi a CNE capaz de antecipar esta situação, tendo ocorrido o bloqueio do Portal do Cidadão e do serviço SMS 3838, que supostamente deveriam evitar este tipo de problemas.
Termino com duas frases de amigos, que reflectem o meu sentir: Carlos Gil, que escreveu na terça-feira “É um voto sem chama, farda, voto do dever. (...)Não estarei alegre quando votar Manuel Alegre”, e João Tunes, que escreveu ontem “Se não é arma, ao menos que seja grito. (…) Prefiro perder eleições a enfiar a cabeça numa torre de marfim. Escolhendo entre o que havia para escolher, já votei.” Por mim, terminei a noite de ontem com uma frase no Facebook: longe de mim questionar a democraticidade das eleições e honra seja feita ao vencedor. Mas nestas eleições houve 2 vitórias: a da abstenção e a dos que têm medo do futuro.
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