sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Coisas que me chateiam na Campanha Presidencial

Chateia-me que Manuel Alegre faça uma campanha em parece andar a reboque do que Cavaco Silva disse na véspera ou de manhã. Gostaria, e creio que seria mais útil para a sua campanha, vê-lo estabelecer a sua própria agenda, tentar impor o seu ritmo, em vez de correr atrás. Chateia-me que me faça lembrar aquelas equipas de futebol que, não seguindo na dianteira, passam a vida a queixar-se da arbitragem e a falar do tenebroso “sistema”.

Chateia-me que Cavaco Silva se pavoneie pelo país com o discurso “depois de mim o dilúvio”. Que mande farpas ao Governo e à concorrência e depois diga que não tem comentários a fazer. Que faça do tabu um modo de vida. Chateia-me que queira fazer passar a mensagem que não tem nada a ver com a actual crise em Portugal e que, se não fosse ele, salvador da pátria, seria bem pior.

Chateia-me que Defensor de Moura, em vez de divulgar a sua ideia de Portugal e as suas intenções se eleito, passe o tempo numa “blitzkrieg” privada contra Cavaco Silva. Bem sei que ele insiste que não anda a fazer recados a ninguém, mas lá que parece, parece.

Chateia-me que Francisco Lopes diga “portanto” tanta vez. Que continue a fazer o rotineiro discurso cristalizado do PCP, do grande capital, do imperialismo capitalista contra o proletariado, como bom aluno da cartilha Marxista, que continue a saga da cassete. Chateia-me que esta campanha seja, não para promover a sua eleição a Presidente, mas para promover a sua subida dentro do partido, eventualmente a Secretário-Geral, a curto prazo.

Chateia-me que Coelho seja candidato. Não que não tenha o direito de o ser, mas que tenha decidido sê-lo. Desconfio muito de virgens impolutas. Se tem uma guerra pessoal com Alberto João Jardim resolva-a na ilha-reino e não mace o povo português. É que se o papel de bobo da corte é aceitável num reino, não o é numa República.

Chateia-me que Fernando Nobre pareça falar sempre sob o efeito de um estupefaciente forte. Umas aulas de dicção vinham a calhar. Não gosto da postura de Madre Teresa de calças, de paternal abade da freguesia, que serena os espíritos e acalma os elementos. Chateia-me o seu idealismo, prenhe de promessas românticas que, sabe-o ele e sabemos todos, nunca conseguirá levar a cabo se eleito, por lho não permitirem nem a Constituição nem os partidos.

Chateia-me que a Campanha seja mais seca que as areias do deserto, sem chama, sem fulgor, sem debate de ideias. Chateiam-me os almoços de Campanha, com claques ensaiadas, que a televisão vai lá estar, e é preciso mostrar boa disposição e muita dinâmica, muita alegria. Chateiam-me os passeios pelas urbes, os apertos de mão, mesmo a quem lhes não quer apertar a mão, as festinhas às crianças, os dichotes às peixeiras. Chateia-me o ar popular que os candidatos tentam adoptar, com mais ou menos esforço, que isto, na política, é preciso ter um ar popular quando se anda na rua, somos do povo pá, vê lá pá, nem uso gravata pá, só um “blazer” pá. Chateia-me, pela primeira vez desde 1986, ainda não saber em quem vou votar ou se, como venho fazendo nas Legislativas, irei votar em branco.

Perdoem se vos chateei.

2 comentários:

Anónimo disse...

Deixa lá pelo menos desta vez com a desculpa da crise não temos levado com muitos outdoors daqueles enormes que nos ferem a vista e nos fazem pensar em merda sem lhe sentir-mos o cheiro...

Um abraço
Pimpão

ana disse...

o bom do chatear é que como me disse uma vez um médico a respeito de algo que eu tinha,era que incha,desincha e passa.Dia 24 já passou e o que for soará.