terça-feira, 10 de agosto de 2010

Amei Amado


Completam-se hoje 98 anos sobre o nascimento de Jorge Amado, nome maior das letras brasileiras e da língua portuguesa. Nasceu a 10 de Agosto de 1912 na Fazenda Auricídia, em Ferradas, no Município de Itabuna, no sul do estado da Bahia.

Escritor interventivo, membro do PCB políticamente activo, conheceu os cárceres da ditadura brasileira e foi obrigado ao exílio em vários países da América Latina e da Europa por diversas vezes. Pelo incómodo que causava ao regime, os seus livros chegarm a ser considerados como material subversivo e retirados do mercado brasileiro. É autor de obras tão conhecidas como "Gabriela, Cravo e Canela", "Capitães da Areia", "Tieta do Agreste" ou "Dona Flor e Seus Dois Maridos". Passeou a sua excelência por diversos géneros: romance, novela, poesia, teatro, conto, literatura infanto-juvenil e até guias de viagem. Está publicado em 48 línguas e 52 países.

Dir-vos-ão os intelectuais que Amado escreveu sobre o paradigma da luta de classes, numa perspectiva materialista própria do marxismo-leninismo, que orienta a ficcionalização do oprimido. Será. Eu, que sou mais terra-a-terra, leio tristeza e alegria, resistência e sonho, putas e mães-de-santo, sexo e carnaval, ouço batuques nos terreiros de camdomblé e novenas de beatas em igrejas barrocas, estalidos de chicote na senzala e pregões de baianas, sinto o cheiro de vatapá e acarajé, côco e azeite de dendê. Gente que podia ser eu, sons da vida e cheiros da terra. Coisas simples, saídas da máquina de escrever de um poeta que queria "escrever o país".

Faleceu a 6 de Agosto de 2001.
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"... mesmo que a gente morra, é melhor morrer de repetição na mão, brigando com o coronel, que morrer em cima da terra, debaixo de relho, sem reagir. Mesmo que seja para morrer nós deve dividir essas terras, tomar elas para a gente. Mesmo que seja um dia só que a gente tenha elas, paga a pena de morrer."
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in "Os Subterrâneos da Liberdade", 1954
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Amei Amado
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Amei a canela e o cravo

o cacau e a vermelha seara

Amei um mar morto,

o agreste e os ilhéus,

Amei capitães meninos

e a milagreira tenda

Amei uma teresa

da guerra cansada

Amei dona flor

mas os maridos não

Amei a estrada do mar

e o amor de soldado

Amei bahia de todos os santos

e o mundo da paz.

Amei Amado
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imagem: desenho de Carlos Scliar, artista plástico gaúcho, 1947.
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texto e poema: jc

1 comentário:

ana disse...

amei Amado e amei o poema.