Em finais dos anos 70 e início dos anos 80 do século passado participei, como muitos outros da minha geração, em algumas lutas estudantis, que tiveram como consequência, no meu caso pessoal, a aplicação de medidas disciplinares por parte das escolas, detenção pela polícia e sérios problemas em casa. Lutei primeiro, numa das escolas que então frequentei, porque na mesma não existia uma área para a prática de desporto, um mero campo ao ar livre que fosse, sendo a disciplina de Educação Física puramente riscada do programa escolar. Lutei, mais tarde e noutra escola, porque as aulas decorriam em pavilhões pré-fabricados, sem climatização - no Verão abriam-se todas as janelas e a temperatura era suportável, mas no Inverno, nos dias mais frios, pura e simplesmemte não conseguia segurar a caneta nos dedos, existindo apenas um pequeno aquecedor a gás para toda a sala, utilizado pelos professores. Numa outra escola lutei ainda porque não existia um laboratório de Física/Química, o que prejudicava de sobremaneira o nosso desenvolvimento nessas matérias.
As formas de luta em que participei passaram pela greve, pelo bloqueio dos portões das escolas e das salas de aula, pela invasão de reuniões de Conselhos Directivos e até de uma Assembleia Municipal. Havendo Associações de Estudantes nas escolas que então frequentei, que normalmente desencadeavam e lideravam estas acções, e sabendo todos nós a manipulação que alguns partidos políticos faziam dessas estruturas, situação de que sempre me desmarquei, nunca integrando nenhuma lista (desde pequenino que não gosto nem de rédeas nem de antolhos), não deixei de estar na linha da frente quando achei que era o momento de dar a cara à luta e o corpo ao manifesto.
Nunca em momento algum me passou pela cabeça questionar a disciplina dentro da escola, a hierarquia que a caracteriza, o respeito por professores e funcionários. Muito menos me lembrei alguma vez de questionar o regime de faltas ou a exigência dos programas escolares. Para mim sempre dado adquirido que quem falta deve chumbar, que quem não tem mérito reprova e que quem falta ao respeito a um professor ou funcionário arca com as consequências. O que me chateava e tirava do sério eram as péssimas condições que acima descrevi, as aulas de algumas disciplinasc omeçarem em Novembro ou Dezembro porque não havia professores suficientes, não ter biblioteca condigna ou estar numa turma com 40 alunos, como chegou a acontecer.
Foi hoje aprovada legislação que corrige a balda do anterior diploma, introduzindo no novo articulado medidas que recuperam a distinção entre faltas justificadas e injustificadas e que permitem reduzir os prazos dos procedimentos disciplinares, e Pedro Feijó fala em... maneiras de punir alunos. Volta a ser dada a devida importância à assiduidade, à autoridade do professor, à disciplina e ao mérito, e Pedro Feijó fala em... défice democrático nas escolas.
Creio que a diferença é que eu era estudante, aquele que estuda, e o jovem senhor Pedro Feijó, que não conheço mas é para mim voz emblemática dos valores de parte da sua geração, deve ser "escolante", ou seja, deve limitar-se a ir passear os livros à escola, esperando que certo laxismo que por aí vai grassando ou intervenção divina, paga com romaria ou vela, o façam passar de ano. Dito isto, devo acrescentar que nada me supreenderá se este jovem senhor, daqui por uns anos e com uma licenciatura num dos muitos cursos superiores da treta que por aí pululam, com a bagagem de demagogia e populismo que já leva, chegasse a ministro. Está no bom caminho.
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imagem daqui: http://edsonrodrigues.wordpress.com/2009/02/03/estudante-universitario/
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