terça-feira, 23 de março de 2010

Caminhos do Turismo


Em 2007, entrou-me pela porta do estaminé de dormidasepequenoalmoço de que sou proprietário um indivíduo, na casa dos sessenta e alguns, aspecto fatigado e cara de quem estava precisar de um bom banho e muito descanso. Despachado o costumeiro “do you speak english” e o registo, foi-se o agora cliente, com a promessa de voltar mais tarde, pois necessitava de algumas informações.
Ainda nesse dia, fiquei saber que o senhor se chamava Herman Hass, alemão, peregrino a caminho de Santiago de Compostela. E de quantas informações precisava ele! Por onde passava o Caminho por estas terras, onde comer, onde dormir mais adiante, horários de comboios, pormenores sobre história e património da região. Estivemos cerca de cinco horas à conversa, enquanto lhe ia fornecendo todo o material de que dispunha, textos, mapas, traduzindo uma coisa aqui e outra ali.
Fiquei também a saber que estava a percorrer o Caminho enquanto ia compilando material, para mais tarde escrever um guia de viagem. Pediu a minha ajuda para reconhecer o Caminho no Concelho de Nisa (informei-o de que haveria não um, mas três), e lá fomos nós ver da Vereda da Sardinheira, da ponte romana próxima da Capela de Nª Sª da Graça, do caminho velho entre o Pé-da-Serra e Vila Velha de Ródão. Partiu passados três dias, e durante o resto desse ano fomos trocando “e-mails” regularmente, com mais pedidos de ajuda, a que fui respondendo dentro das minhas possibilidades.

Em 2009 Herr Hass regressou. Desta vez vinha confirmar as informações compiladas em 2007, pois uma editora aceitara publicar o seu manuscrito. Colaborei de novo como pude e, no início de 2010, tive o prazer de receber pelo correio um exemplar autografado pelo autor, que me fez ainda o favor de me dedicar um agradecimento especial no final da obra, de seu título “Portugal Spanien: Jakobsweg Ostportugal – Via Lusitana – von der Algarve nach Orense”.
Ontem chegaram a Nisa os primeiros frutos deste trabalho: dois peregrinos holandeses, casal simpático, ambos reformados. Curiosamente, recebi esta manhã um e-mail da Suíça, com uma reserva de mais dois peregrinos para o mês de Junho.

Não creio que este livrinho vá trazer a Nisa hordas de peregrinos: poderá trazer algumas dezenas por ano, que terão de permanecer no Concelho por, pelo menos, uma noite, contribuindo assim para a economia local. Não sendo muitos, não serão certamente de desprezar.
Considerando este facto, bem como algumas reclamações/sugestões que recebi deste primeiro casal, nomeadamente no que à ausência de sinalética diz respeito, bem como do sofrível atendimento prestado no Posto de Turismo (em contrapartida só teceram elogios ao falar da simpatia e disponibilidade das nossas gentes), não seria possível a nossa Câmara Municipal dedicar algum tempo a este assunto? Já sei que não há dinheiro, tantas vezes já ouvi a resposta. Mas mais uma vez digo (água mole em pedra dura…) que muitas vezes não se trata de dinheiro mas de sensibilidade para esta e outras questões. Custará assim tanto o Posto de Turismo apetrechar-se com algum material, impresso ou fotocopiado, de apoio específico aos peregrinos a percorrer o Caminho de Santiago? E, utilizando um molde, pintar ao longo do troço do Caminho que atravessa o nosso Concelho, algumas vieiras, símbolo do apóstolo? Não me parece que seria esta despesa a levar a CMN à bancarrota. De novo aqui deixo um desafio. Assim haja alguém que ouça, delibere e mande fazer.

2 comentários:

Sérgio Cebola disse...

Subscrevo e assino por baixo! A Autarquia que dê o primeiro passo que haverá quem se queira associar e colaborar nesta nobre tarefa! Não será necessário muito dinheiro, mas como tu dizes e muito bem, será necessária sim alguma sensibilidade, não só nesta como noutras situações semelhantes. Não tenho dúvidas que o retorno que poderá advir da aposta neste projecto será muito superior à verba investida! Já vai sendo tempo de nos deixarmos de delírios e apostarmos no que de facto poderá dar visibilidade ao nosso Concelho.

Pimpão disse...

Amigo e companheiro Zé Carlos!

Sabes bem que por motivos óbvios os caminhos de Santiago fazem parte do meu quotidiano desde há uns anos a esta parte.
Não será portanto descabido dizer que esse é um assunto que tem nesta nossa santa terrinha, para além de mim, pelo menos mais meia duzia de acérrimos defensores. Acrescentando algo mais aquilo que escreves, poderei dizer-te que fazem parte dos meus planos futuros fazer um levantamento dos ditos caminhos no nosso Concelho e propor a quem de direito para além da sua marcação, a disponibilização de um espaço para pernoita com as comodidades minimas, acordos com casas como a tua e com restaurantes com pacotes especiais para peregrinos, bem como a feitura de um folheto com informações relevantes sobre o caminho e sobre os vários serviços que podem dispor ao longo da sua passagem no Concelho.
Mas como sabes existem algumas entidades ao longo do Baixo e Alto Alentejo que estão já a debruçar-se sobre esse assunto de uma forma séria,sendo intenção uniformizar parece-me a mim este caminho interior Português, não só em termos de marcas.
Para além de que, como se sabe a passagem do caminho no nosso Concelho vem já da idade média como se pode testemunhar no livro de Humberto Baquero Moreno "Vias Portuguesas de peregrinação a Santiago de Compostela na idade média", que para além de fazer referência a Nisa como ponto de passagem relata o julgamento de um ataque a um casal de peregrinos alemães em 1455, cujo julgamento decorreu em Nisa.
Trata-se pois de um projecto aliciante e ao qual poderíamos deitsar mãos nos nossos tempos livres...
Que me dizes?

Um abraço!

António Pimpão