quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

NISARTES ou não, eis a questão


Não sou economista, não tenho mesmo formação alguma nas áreas da gestão e finanças. Mas giro um pequeno negócio, do ramo hoteleiro, e qualquer sapateiro de vão de escada sabe que, para sobreviver, as receitas têm que ser superiores às despesas.
Ora como sabemos todos isto nem sempre acontece, por razões várias: porque investimos e o retorno desse investimento tarda em surgir, porque investimos no momento errado, porque, por uma variedade de razões, nem sempre da nossa responsabilidade, os nossos custos aumentaram, ou ainda porque as nossas receitas não acompanham os custos.
Nestas situações as soluções são poucas: ou aumentamos a receita, ou diminuímos os custos, ou conseguimos ambos os desideratos.
Qualquer negócio oscila num equilíbrio precário entre o preço de venda e o preço de custo, entre o máximo que o comerciante pode ganhar e o mínimo que o cliente pretende pagar. Se eu já estou a ganhar o máximo que posso, porque se aumento o preço perco os meus clientes, e a minha despesa, por exemplo os meus custos fixos de exploração (rendas, electricidade, água, etc) aumentam, o que posso fazer?
Dir-me-ão: é fácil pá! Corta-se nas despesas! Claro que sim, era precisamente aqui que eu queria chegar: claro que corto nas despesas, mas como?
Muitas vezes, mesmo cabeças informadas, quando não supostamente iluminadas, não entendem aquilo que eu, leigo na matéria, vejo claramente: a diferença entre reduzir custos e desinvestir. Reduzir custos é uma medida de gestão aconselhável e desejável, desinvestir pode trazer graves consequências.
Voltando ao meu negócio, eu explico: reduzir custos será utilizar menos o telefone, controlar os consumos de luz e gás, mantendo apenas em funcionamento os equipamentos essenciais em dado momento, procurar consumíveis a melhores preços, renegociar taxas de juro na banca ou contratos de seguros. Desinvestir será deixar de renovar o mobiliário, começar a servir produtos de segunda (porque são mais baratos), não substituir as roupas dos quartos todos os dias (menor consumo de água, electricidade e detergente).
Se eu reduzir custos os meus clientes não serão afectados, logo a minha receita não será afectada, e o meu saldo tenderá a ser positivo ou, na pior hipótese, menos negativo. Se eu desinvestir, os meus clientes serão afectados (provavelmente optarão por outra unidade hoteleira) logo a minha receita será afectada e o meu saldo, ainda que os meus custos diminuam, tenderá a tornar-se ainda mais negativo.
Comecei por dizer que não sou economista, longe disso, por isso, a que propósito vem este arrazoado? Porque corre por aí nos “mentideros” o rumor de que este ano se não realizará a NISARTES. E o que tem isto a ver com redução de custos e desinvestimento? Muito!
Que o Concelho está endividado todos sabemos. Aliás, e isto chocará alguns, esse é o menor dos meus problemas: todos os concelhos estão endividados. Se uma autarquia não contrair empréstimos não poderá fazer obra. Não, o problema não é o endividamento, mas sim o facto de este ultrapassar o seu máximo permitido. De qualquer modo, não vi ainda esta situação cabalmente explicada. Mas concedamos que o tempo das vacas gordas acabou e que são necessários sacrifícios: é fácil pá! Corta-se nas despesas!
Em que despesas? Nas remunerações dos funcionários? No número de funcionários? Sejamos pragmáticos: num concelho onde a autarquia é o maior empregador, qualquer uma destas medidas causaria danos a dezenas de munícipes, contribuindo ainda mais para o agravar da situação. Retirando o tapete debaixo da TERNISA, deixando de injectar capital na empresa? Mais uma vez o meu pragmatismo me diz que esta não é a solução: o projecto atingiu tal dimensão, quer estratégica, quer financeira, que a única solução é continuar o investimento e esperar por melhores dias. Tenho as minhas críticas acerca do modo como a Ternisa vem sendo gerida, nomeadamente ao nível da comunicação, mas isso são contas doutro rosário,que deixarei para outra crónica.
Então onde é que a autarquia pode reduzir custos? Humildemente confesso que não sei. Não fazendo parte da vereação, não sendo sequer funcionário, não possuo dados suficientes para apresentar soluções. E quem não sabe não inventa!
Sei, isso sim, que a resposta não passa, a confirmar-se o que corre nos “mentideros”, por não realizar a NISARTES. Porque isso não é redução de custos, é desinvestimento.
Se há algo que, ao menos uma vez por ano, põe Nisa no mapa de Portugal, é a NISARTES, nosso evento maior, nossa montra. Certamente todos se lembrarão ainda do mortiço Verão de 2006, ano em que não se realizou a então denominada FRAGAE, da acentuada quebra de receita que tiveram os estabelecimentos comerciais nas áreas da restauração e bebidas, hotelaria, artesanato e outros, do desconsolo que foi ver a Vila sem gente nem animação.
Para além do impacto negativo que teria a nível da divulgação das actividades e riquezas do concelho, teria também um impacto muito directo na sua economia e finanças. Muitas pequenas empresas, principalmente as mais afectadas pela sazonalidade, deixarão de realizar receita substancial, bem como a própria autarquia, já que a esta cabe uma parte do valor do IRS, IRC e IVA cobrados no concelho, num círculo vicioso inultrapassável.
Dir-me-ão que à autarquia a realização da Nisartes dá prejuízo, que a receita gerada não cobre a despesa. Pois dará, mas também as estradas dão e não é por isso que as autarquias deixam de as fazer, nem isso, por tão absurdo, passa pela cabeça de alguém.
Gestão autárquica não é gestão empresarial, e até mesmo as empresas têm responsabilidade social. As autarquias devem optimizar custos, mas não podem desinvestir em equipamentos e actividades que afectem, de modo ou indirecto, a qualidade de vida dos seus munícipes.
As boas soluções costumam ser as mais simples, mas nem sempre são as mais fáceis. E é fácil, do ponto de vista das finanças da autarquia, argumentar contra a realização da NISARTES. Mas será boa solução?

1 comentário:

Margarida Oliveira disse...

Zeca tens toda a razão!
Eu também tenho comercios mas a Feira não me aquece nem me arrefece nesse sentido!Ninguém vem à Feira por causa de comprar um chá na minha ervanária, mas ajudam muito ao comercio local, como é o teu caso e o da minha mãe, etc...
O problema da feira e permite que eu te diga isto, está na "cagança"!
A feira pode fazer-se se não houver artistas convidados, com pagamentos brutais pelo seu "espectaculozinho"...
O que não falta são artistas por este pais fora e acho fulcral valorizar os nossos com se tem feito.
Não há dinheiro para Rita red shoes?! Podemos procurar bandas mais económicas...e isto é um exemplozinho...
A malta vem às festas na mesma com um cantor menos popular. a malta vem às festas com bandas e foclore como se apostava antigamente!Porque é que em vez de se fazer o Festival de foclore que vem já ai agora, porque não continuar essa aposta na feira!Tragam Sevilhanas que em Nisa todos deliramos com isso!Tragam Bandas!Proponham um plafon para gastar por aqui na feira e aprendam a negociar com os grupos portugueses...

Dj's?!
O Filho da Senhora Presidente e o seu colega, o meu irmão Gustavo entre outros, vêm trabalhar até de borla para ajudar a terra!
Porque não arranjar alguém para por música dos anos 70,80,90 para mudar um pouco os gostos e não ser só "martelada"...afinal a nossa geração também é gente!
Agora falando nos restaurantes e bares. Porque não ajudar apenas a nossa terra?!temos tantas casa de restauração meu Deus!
Vêm as pessoas não sei de onde comer comida de Coimbra?!
Porque não exigir a venda exclusiva dos vinhos "terras de Nisa"?!
Promover um dia pro queijo!Outro pro barro1 Outro pro Vinho, etc...e deixemo-nos de "água, fogo, metal, madeira, calhau e sol e caganices!"
Com o dinheiro das entradas dá perfeitamente para fazer a festa.Reduzindo custos e "caganças"...
Muitos são os que pensam com eu...
E agora sem querer ser mázinha...se não houvesse tantas dispustas com a feira do crato a ver qual é ma "mai linda e mai grande"...não havia os problemas que há!
Obrigada pelo desabafo, Zeca!
Beijo grande