domingo, 23 de novembro de 2008

Cá na terra... havia um queijo.



Cá na terra... havia um queijo.

Chegava-me a Moçambique, terra das minhas primeiras memórias, enviado por meus avós maternos, conservado em azeite.

Regressado a Portugal, fui andando de terra em terra, primeiro ao sabor das transferências de serviço de meu pai, depois vogando para onde as marés da minha própria vida me levavam. Mas ficou-me esse gosto de queijo na boca.

Recordo perfeitamente a minha primeira visita a Nisa, lá pelos finais dos anos 80, vindo de Lisboa, a caminho da Serra da Estrela. E a segunda também, já em finais dos anos 90, pela mão de amigos cá da terra para quem trabalhei nos arrabaldes da capital. E também me lembro que em ambas as vezes comprei Queijo de Nisa.

As tais marés da vida acabariam por me trazer até esta terra, onde me radiquei, constitui família e tenho como minha.

O Queijo de Nisa passou a ser, agora próximo dos seus produtores, oferta habitual a amigos e familiares, prenda entregue com orgulho e a certeza de que a mesma será apreciada.

E a que propósito vem tudo isto?

Acabo de ver mais um programa da série "A alma e a gente" de José Hermano Saraiva, difundido na RTP2, dedicado a Portalegre. Lá para o fim do programa, depois das loas do costume à localidade em foco, e para minha surpresa, depois de uma referência aos vinhos de Portalegre, ouço também uma referência ao queijo, e cito, "(...) o queijo de Portalegre, que ainda recentemente foi considerado por uma revista americana um dos melhores do mundo."

Alto e pára o baile! Queijo de Portalegre?

Já não me chegava o dito queijo premiado ser feito em Monforte, a 65 quilómetros de Nisa, que por razões que, pelo menos a minha, razão desconhece, tem a Denominação de Origem Protegida (DOP) "Queijo de Nisa", ainda tenho agora que ouvir que o queijo é de Portalegre? Haja vergonha, já que não há rigor!

Ainda durante a última "Volta a Portugal em Bicicleta" ouvi desconsideração de igual quilate, quando a um Prémio da Montanha implantado em plena Serra de S. Miguel, ali por alturas do cruzamento do Arneiro, foi dado o nome de Alto de Ródão, repetido em todos os órgãos de comunicação social que cobriam o evento.

Desconheço se a nossa Câmara apresentou algum protesto por este erro, mas se não o fez então deveria fazê-lo agora. Pela parte que me toca, vou de seguida enviar um mail para a produtora do programa, dando-lhe conta do seu erro e do meu desagrado. Quem não se sente, não é filho de boa gente.



3 comentários:

Anónimo disse...

pois...havia, e tb havia um amigo que fazia posts muita giros, onde andará ele?
beijo, theo

Anónimo disse...

"Na nossa câmara", quem manda não é de cá, logo a preocupação em relação á preservação da origem dos produtos, não deve ser muita, tal como o não são muitas outras coisas...

José Monteiro disse...

Caro Anónimo,

Parece-me esse farco argumento. Também eu não sou de cá! Mas foi aqui que constituí família , foi aqui que investi os meus parcos recursos e vou fazendo o que posso para promover e divulgar a terra. Não pude por isso ficar impávido perante mais esta afronta à identidade e património de Nisa.