sexta-feira, 11 de abril de 2014

Embuste

 
 
No final da passada semana o meu filho recebeu uma carta do Centro de Emprego (CE) de Portalegre, convocando-o para uma entrevista onde lhe seria feita uma oferta de emprego, sem indicação de qual. So far so good.
 
No dia da entrevista, graças à miserável oferta de transportes públicos que servem a nossa região, tive que me deslocar a Portalegre, que, para quem não sabe, dista 35km de Nisa. Estacionei, ele saiu para a entrevista, obtive a senha de estacionamento, ia a meio da primeira página do livro que levei para ler enquanto aguardava, e já ele entrava de novo no carro. Supreso perguntei:
 
- Já?? Então qual era a oferta de emprego?
- Era para saber se eu queria entrar para o Exército...
 
Esperem lá: um Centro de Emprego convoca um cidadão para uma entrevista, obriga-o a uma deslocação de 70km, com os custos financeiros e perda de tempo que isso acarreta, para lhe oferecer uma carreira no Exército? E chama a isso "oferta de emprego"??
 
Se bem me lembro, o serviço militar em Portugal é, desde há vários anos, totalmente voluntário. Existe uma coisa a que se chama Dia da Defesa Nacional (DDN), de comparência obrigatória para todos os cidadãos portugueses, de ambos os sexos, que completam 18 anos de idade, onde são elucidados acerca da forma de organização dos 3 ramos das Forças Armadas (FA) e das diferentes formas de prestação de Serviço Militar. Em querendo, podem candidatar-se de imediato a uma carreira militar, podendo também fazê-lo mais tarde.
 
Ou seja: se o meu filho tivesse alguma apetência pela vida militar já poderia ter-se candidato. Não o tendo feito, presume-se que tal não lhe interessou no DDN nem nos 2 anos seguintes.
 
Eu entendo que as ofertas de emprego que chegam aos CE não devem ser muitas. Também entendo que quem aí labora tem que justificar o seu posto de trabalho, não vá este extinguir-se por falta de "clientes". Entendo ainda que talvez as FA estejam com falta de efectivos, se calhar porque os aliciantes da vida militar são cada vez menos e, na maioria dos casos, não falamos hoje de uma carreira militar mas de contratos a prazo.  Estou até disposto a entender que o Governo tenha a necessidade de manipular os números do desemprego em Portugal, dourando a pílula para as eleições de 2015.
 
O que não entendo é porque razão o "convite" não lhe foi endereçado por carta, telefonema ou e-mail, e que, em caso de resposta afirmativa, fosse então agendada uma entrevista pessoal.
 
Sobretudo não entendo que se aborde um cidadão desempregado, causando-lhe incómodo e despesa, sob falso pretexto. Sim, porque de falso pretexto se trata! Tratar o ingresso numa carreira militar como uma oferta de emprego, quando qualquer cidadão pode, cumpridos certos requisitos, voluntariar-se para tal, é um embuste. E depois querem que eu acredite que o Estado é pessoa de bem?? Nas imortais palavras de Pinheiro de Azevedo, "vão à badamerda!". 
 
 
 

2 comentários:

Ribeiro disse...

Bem dito... É o "País" que temos...!

Kruzes Kanhoto disse...

Ainda alguém se há-de lembrar de voltar a instituir o serviço militar obrigatório. Pelo menos durante o tempo em que lá estiverem, ainda que obrigados, não contam para os números do desemprego...