terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Praxis II

Nem de propósito, porquanto à hora em que escrevi a anterior postagem não tinha dele conhecimento, o programa da RTP1 "Prós e Contras" de ontem teve por tema as praxes académicas. Em teoria, enquanto defensores da praxe, intervieram Ricardo Morgado, Presidente da Associação Académica de Coimbra, e Eduardo Vera cruz, Presidente do Conselho Directivo da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, e enquanto opositores intervieram Fernanda Câncio, jornalista do "Diário de Notícias", e José Caldas Almeida, Professor Catedrático de Psiquiatria e Saúde Mental da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.
 
Escrevi acima "em teoria" porque, em boa verdade, nem os defensores da praxe se identificam com a totalidade dos actos praticados a seu coberto, nem os seus delatores pedem a sua extinção pura e simples. Ou seja, lá no fundo, todos dizem, ou pretendem querer dizer, porque é politicamente correcto,  a mesma coisa.
 
Um senão: foi repetido "ad nauseam" por alguns dos intervenientes que "aquilo", referindo-se a algumas imagens degradantes, aquando do visionamento de um excerto do documentário "Praxis", da autoria de Bruno Moraes Cabral, não era praxe. Esses que me desculpem, porque, meus amigos, assumam que quando alguém se refere a praxe, seja em que ponto do país for, a começar pelos próprios estudantes do ensino superior, é exactamente deste tipo de alarvidades que fala! Deixem-se de estúrdios exercícios semânticos e, se de facto querem que alguma coisa mude, reconheçam que a maioria dos actos praticados em praxe, não se esgotando "naquilo", quase não é outra coisa!
 
Outra coisa me incomodou: vários representantes de associações académicas, enquanto reiteram que a sua razão de existir é representar e ajudar os estudantes, demite-se dessa função no caso das praxes, alegando que não é organização sua, logo, responsabilidade sua. Curiosamente, enquanto dizem isto com o ar mais sério do mundo, invectivam as Reitorias/Direcções com ar reprovador, ao acusá-las de, na sua maioria, ignorarem o fenómeno. Dois pesos, duas medidas.
 
Do lado dos que defendem a extinção das praxes também impera, em alguns casos, muita falta de bom-senso. Pedir ao Governo que regulamente estas acções, quando um dos princípios basilares da Academia é a sua autonomia, é absurdo. Se alguns dos actos praticados a coberto das praxes forem de índole criminal, aí estão o Código Penal e o Código Civil para punir os prevaricadores, não é necessário atamancar à última da hora, a quente, legislação dobre a matéria. Tratar todos os estudantes como imbecis e todas as instituições de ensino superior como antros de malfeitores, meter tudo no mesmo saco, não distinguir boas de más práticas, é pouco avisado e só aumenta a crispação.
 
Assobiar para o ar e chutar para canto, ou tomar a árvore pela floresta não são maneira de lidar com o problema. Dentro da Academia está o problema e dentro dela está a solução. Só uma acção concertada de Reitorias/Direcções, Associações Académicas e estudantes pode pôr alguma ordem nas praxes. Não podem as primeiras alegar que o que se passa fora do Campus ou que não é do seu conhecimento não é responsabilidade sua, nem as segundas escudar-se em discursos retóricos sobre formalidade e legalidade, das Comissões e Regulamentos de Praxe, como ontem vi. Aos últimos cabe ter respeito próprio e aprender a ser cidadão pleno, livre e independente.
 
Em jeito de nota de rodapé dois comentários finais:
 
- caríssimo Dux Veteranorum da Universidade de Coimbra: alegar que tem 24, pasme-se, 24 matrículas, porque trabalha à 20 anos e não teve ainda tempo de terminar o Curso, é de força! Deixe-se de frescura e tenha a decência de reconhecer que só se vai matriculando a cada novo ano porque não quer perder o estatuto que tem, vá-se lá saber porquê.
 
- caríssima jornalista Fernanda Câncio: estar a agarrada ao seu "telélé" a "twitar", em pleno debate, é de uma falta de elegância a toda a prova. Fazê-lo nos temos em que fez, é boçal e pouco condizente com a sua condição de jornalista.

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