Esta é uma história antiga,
reflexo fiel do modo como dois países vivem de costas voltadas embora estejam
lado a lado, contra a vontade dos seus habitantes, que querem estreitar laços. Já
por várias vezes, nomeadamente aqui
e aqui,
me referi ao assunto da construção de uma ponte sobre o rio Sever, ligando
Cedillo a Montalvão. Na última destas postagens, dava conta do meu regozijo
pela decisão de se avançar com a construção da ponte, então anunciada pelo Presidente
da Diputación de Cáceres, Juan Andrés Tovar.
Com um custo estimado em
2010 em cerca de 4,1 milhões de euros (3,5 milhões para a ponte e 600 mil euros
para os acessos), dos quais 75% seriam fundos europeus do FEDER/POCTEP, atribuídos
no âmbito do Programa do Parque Natural do Tejo Internacional (de que são
signatários os municípios estremenhos de Plasencia e Cáceres, e os Municípios
portugueses de Idanha-a-Nova, Castelo Branco, Penamacor, Vila Velha de Ródão,
Nisa, Castelo de Vide, Marvão, Portalegre e Gavião) e os restantes 25% seriam
assegurados pela Diputación de Cáceres.
Entretanto, em 2011 tiveram
lugar eleições gerais em Espanha, com o PP a obter a maioria a nível nacional,
no Governo da Extremadura e na Diputación de Cáceres, substituindo o PSOE, e,
como dizia o poeta, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Ainda assim, já
depois das eleições, Laureano León, o actual Presidente da Diputación,
confirmava a intenção de construir a ponte, mantendo-se o orçamento e os prazos
já definidos.
Em Abril de 2012, aquando de
uma visita a Cedillo, Laureano Léon anunciava que estavam em cima da mesa 18
propostas para a travessia do Sever, embora o orçamento oscilasse agora entre
os 6,5 e os 8,5 milhões de euros, consoante a localização escolhida, embora não
se tenha querido comprometer com prazos de execução da obra. Para nossa
surpresa, em 18 de Dezembro de 2012, Rafael Mateos, Vice-Presidente e
responsável económico da Diputación de Cáceres, anunciava que “o Presidente
decidiu, em bom critério, que esta não é uma prioridade. O projecto agrada-nos,
a obra é necessária, mas, com 3,5 milhões de euros, só se faria a ponte e
necessitaríamos de mais 5 milhões para os acessos”. Já em Outubro, um outro Vice-Presidente,
Saturnino López Marroyo, havia dado o mote: “Quando virmos que apostar na ponte
não influi de modo negativo no investimento noutros municípios, fá-la-emos”. A Diputación
pretende assim canalizar os fundos já garantidos pela EU para a melhoria de
infraestruturas rodoviárias na região.
A isto contrapõe a Oposição,
liderada pelo PSOE, que os 5 milhões a que alude a Diputación não são
necessários, desde que se implante a ponte no local previsto no projecto
inicial, cerca de 100 metros a montante da barragem, o que implicaria apenas
melhorar os acessos já existentes e não construir de raiz novas estradas. A
Oposição acusa a Diputación e o PP de vingança política, afirmando que tudo o
que estes fizeram foi desperdiçar 20 ou 30 mil euros num estudo para,
baseando-se neste, se poderem justificar e não construírem a ponte. O estudo
inicial, da autoria dos Serviços de Engenharia da Diputación, realizado em
2010, apresentava a seguinte proposta de execução: “Deve construir-se uma ponte
nova, aproveitando de modo razoável os acessos já existentes nas duas encostas
próximas da barragem”.
Acrescento ainda que, tratando-se
de um projecto transfronteiriço, qualquer desvio dos fundos assegurados através
do POCTEP, obriga a que os municípios portugueses envolvidos no projecto deem a
sua concordância às intenções do PP. Até este momento, apesar de saber que já
decorreram algumas reuniões entre representantes de municípios espanhóis e
portugueses, desconheço qualquer tomada oficial de oposição. No caso de Nisa,
do mesmo modo que nunca vimos grandes esforços no sentido de se concretizar
este anseio das populações, continuo sem conhecer qualquer informação municipal
acerca do evoluir da situação.
Discussões à parte, o
resultado final é o mesmo: portugueses e espanhóis continuam de costas
voltadas. E, como cantavam os Jáfumega nos idos de 80, “A ponte é uma miragem”…
PS: em data que anunciarei em breve, poderá ver na SIC uma reportagem dedicada a este assunto.
PS: em data que anunciarei em breve, poderá ver na SIC uma reportagem dedicada a este assunto.
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imagem: arquivo pessoal
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ADENDA: reportagem hoje, às 20h00, no "Jornal da Noite" da SIC.
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ADENDA: reportagem hoje, às 20h00, no "Jornal da Noite" da SIC.
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