terça-feira, 12 de março de 2013

A ponte é uma miragem...




Esta é uma história antiga, reflexo fiel do modo como dois países vivem de costas voltadas embora estejam lado a lado, contra a vontade dos seus habitantes, que querem estreitar laços. Já por várias vezes, nomeadamente aqui e aqui, me referi ao assunto da construção de uma ponte sobre o rio Sever, ligando Cedillo a Montalvão. Na última destas postagens, dava conta do meu regozijo pela decisão de se avançar com a construção da ponte, então anunciada pelo Presidente da Diputación de Cáceres, Juan Andrés Tovar.

Com um custo estimado em 2010 em cerca de 4,1 milhões de euros (3,5 milhões para a ponte e 600 mil euros para os acessos), dos quais 75% seriam fundos europeus do FEDER/POCTEP, atribuídos no âmbito do Programa do Parque Natural do Tejo Internacional (de que são signatários os municípios estremenhos de Plasencia e Cáceres, e os Municípios portugueses de Idanha-a-Nova, Castelo Branco, Penamacor, Vila Velha de Ródão, Nisa, Castelo de Vide, Marvão, Portalegre e Gavião) e os restantes 25% seriam assegurados pela Diputación de Cáceres.

Entretanto, em 2011 tiveram lugar eleições gerais em Espanha, com o PP a obter a maioria a nível nacional, no Governo da Extremadura e na Diputación de Cáceres, substituindo o PSOE, e, como dizia o poeta, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Ainda assim, já depois das eleições, Laureano León, o actual Presidente da Diputación, confirmava a intenção de construir a ponte, mantendo-se o orçamento e os prazos já definidos.

Em Abril de 2012, aquando de uma visita a Cedillo, Laureano Léon anunciava que estavam em cima da mesa 18 propostas para a travessia do Sever, embora o orçamento oscilasse agora entre os 6,5 e os 8,5 milhões de euros, consoante a localização escolhida, embora não se tenha querido comprometer com prazos de execução da obra. Para nossa surpresa, em 18 de Dezembro de 2012, Rafael Mateos, Vice-Presidente e responsável económico da Diputación de Cáceres, anunciava que “o Presidente decidiu, em bom critério, que esta não é uma prioridade. O projecto agrada-nos, a obra é necessária, mas, com 3,5 milhões de euros, só se faria a ponte e necessitaríamos de mais 5 milhões para os acessos”. Já em Outubro, um outro Vice-Presidente, Saturnino López Marroyo, havia dado o mote: “Quando virmos que apostar na ponte não influi de modo negativo no investimento noutros municípios, fá-la-emos”. A Diputación pretende assim canalizar os fundos já garantidos pela EU para a melhoria de infraestruturas rodoviárias na região.

A isto contrapõe a Oposição, liderada pelo PSOE, que os 5 milhões a que alude a Diputación não são necessários, desde que se implante a ponte no local previsto no projecto inicial, cerca de 100 metros a montante da barragem, o que implicaria apenas melhorar os acessos já existentes e não construir de raiz novas estradas. A Oposição acusa a Diputación e o PP de vingança política, afirmando que tudo o que estes fizeram foi desperdiçar 20 ou 30 mil euros num estudo para, baseando-se neste, se poderem justificar e não construírem a ponte. O estudo inicial, da autoria dos Serviços de Engenharia da Diputación, realizado em 2010, apresentava a seguinte proposta de execução: “Deve construir-se uma ponte nova, aproveitando de modo razoável os acessos já existentes nas duas encostas próximas da barragem”.

Acrescento ainda que, tratando-se de um projecto transfronteiriço, qualquer desvio dos fundos assegurados através do POCTEP, obriga a que os municípios portugueses envolvidos no projecto deem a sua concordância às intenções do PP. Até este momento, apesar de saber que já decorreram algumas reuniões entre representantes de municípios espanhóis e portugueses, desconheço qualquer tomada oficial de oposição. No caso de Nisa, do mesmo modo que nunca vimos grandes esforços no sentido de se concretizar este anseio das populações, continuo sem conhecer qualquer informação municipal acerca do evoluir da situação.

Discussões à parte, o resultado final é o mesmo: portugueses e espanhóis continuam de costas voltadas. E, como cantavam os Jáfumega nos idos de 80, “A ponte é uma miragem”…

PS: em data que anunciarei em breve, poderá ver na SIC uma reportagem dedicada a este assunto.
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imagem: arquivo pessoal
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ADENDA: reportagem hoje, às 20h00, no "Jornal da Noite" da SIC.


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