quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Liberdade de expressão



O meio universitário sempre foi um espaço caracterizado pela liberdade de expressão, pelo debate e pela argumentação, por um modo muito próprio de viver e sentir, indissociável da irreverência própria da juventude. Os acontecimentos ontem ocorridos no ISCTE, quando um grupo de estudantes contestou ruidosamente a presença de Miguel Relvas, impedindo-o de falar (sem bem que ouvir Relvas a falar de jornalismo deve ser parecido com aceitar conselhos de raposas acerca de galinhas), não foi um exercício de liberdade de expressão: como por aí li esta manhã, convém não confundir criticar com grunhir.
 
Desde cedo aprendi, também na Universidade, a lutar pelo direito de se fazerem ouvir mesmo aqueles de quem discordo profundamente. Sabem os deuses e os meus botões que não morro de amores por Miguel Relvas, pela sua ideologia, pela sua prática governativa, pela sua chico-esperteza. Daí a concordar com o que ontem aconteceu, vai uma distância muito grande.
 
Uma coisa é uma manifestação, com um tempo, lugar e objectivo concretos, outra, uma arruaça. Uma coisa é o debate de ideias, outra, o insulto pessoal. Aquilo a que assisti foi a uma gritaria num lugar impróprio. Aquilo a que gostaria de ter assistido teria sido ver os estudantes, depois de Miguel Relvas dizer de sua justiça, questionarem o ministro, provocarem o debate. Miguel Relvas teria uma de duas opções: remeter-se ao silêncio e sair pela esquerda baixa, ficando numa posição moral fragilizada, ou contestar os argumentos dos estudantes, justificando as políticas que defende.
 
Quase consigo ouvir o coro de vozes da esquerda agit-prop militante a erguer-se ao ler isto. Lamento imenso, meus amigos: a liberdade de expressão não pode nem deve servir de fundamento para qualquer tropelia que dê na telha a quem quer que seja, por mais justa que seja a causa. É um bem por demais valioso para ser assim desperdiçado.
.
imagem: www.olhardigital.uol.com.br
 
 

Sem comentários: