O meio universitário sempre foi um espaço caracterizado
pela liberdade de expressão, pelo debate e pela argumentação, por um modo muito
próprio de viver e sentir, indissociável da irreverência própria da juventude. Os
acontecimentos ontem ocorridos no ISCTE, quando um grupo de estudantes
contestou ruidosamente a presença de Miguel Relvas, impedindo-o de falar (sem
bem que ouvir Relvas a falar de jornalismo deve ser parecido com aceitar
conselhos de raposas acerca de galinhas), não foi um exercício de liberdade de
expressão: como por aí li esta manhã, convém não confundir criticar com
grunhir.
Desde cedo aprendi, também na Universidade, a lutar pelo
direito de se fazerem ouvir mesmo aqueles de quem discordo profundamente. Sabem
os deuses e os meus botões que não morro de amores por Miguel Relvas, pela sua
ideologia, pela sua prática governativa, pela sua chico-esperteza. Daí a
concordar com o que ontem aconteceu, vai uma distância muito grande.
Uma coisa é uma manifestação, com um tempo, lugar e objectivo
concretos, outra, uma arruaça. Uma coisa é o debate de ideias, outra, o insulto pessoal. Aquilo a que assisti foi a uma gritaria num
lugar impróprio. Aquilo a que gostaria de ter assistido teria sido ver os
estudantes, depois de Miguel Relvas dizer de sua justiça, questionarem o
ministro, provocarem o debate. Miguel Relvas teria uma de duas opções:
remeter-se ao silêncio e sair pela esquerda baixa, ficando numa posição moral
fragilizada, ou contestar os argumentos dos estudantes, justificando as
políticas que defende. 
Quase consigo ouvir o coro de vozes da esquerda agit-prop militante a erguer-se ao ler
isto. Lamento imenso, meus amigos: a liberdade de expressão não pode nem deve
servir de fundamento para qualquer tropelia que dê na telha a quem quer que
seja, por mais justa que seja a causa. É um bem por demais valioso para ser
assim desperdiçado.
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imagem: www.olhardigital.uol.com.br
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