Desde o dia 5 de Outubro de
2012 que Nisa deixou de ter o seu jornal em formato papel. O “Jornal de Nisa” manteve-se
ainda em formato digital, mas recebi hoje a confirmação de que até isso nos vai
ser negado.
Em e-mail assinado por Ana Aldeia e Teresa Melato,
respectivamente Directora e Directora-Adjunta do “Jornal de Nisa”, fui
informado, na qualidade de colaborador do jornal, que na sequência da decisão
tomada pela direcção da ADN, proprietária do mesmo, de pôr fim ao contrato de
trabalho que vinculava ao projecto a sua única funcionária a tempo inteiro, a
jornalista Teresa Melato, não vai ser dada continuidade à sua edição digital.
J. M. Nobre Correia,
Professor de Jornalismo na Université Libre de Bruxelles, escreve na sua obra “A
Cidade dos Media”: “Os grandes diários portugueses continuam a ser, antes do
mais, jornais de Lisboa ou do Porto. Jornais que pouca importância dão ao que
se passa para além das áreas urbanas destas duas cidades. Jornais incapazes de
reflectir o palpitar da vida quotidiana das gentes das cidades e das aldeias da
“província”.
Não podendo deixar de
concordar, acrescento: a importância da imprensa local e regional ultrapassa
largamente aquilo que se julga quando se olha o país e o mundo com a visão
estreita do centralismo, a partir de Lisboa. Rosto humano e humanizante, próximo do
país real, a vocação desta imprensa é o jornalismo de proximidade, são as
notícias-de-ao-pé-da-porta, que escapam à grande imprensa generalista.
No mundo globalizado, a
imprensa regional é factor essencial de preservação das identidades, essas
mesmas identidades que ultimamente tão defendidas têm sido, a propósito da
extinção/agregação de freguesias. Pelos vistos apenas servem de argumento para
algumas coisas. A imprensa regional é também factor de enraizamento, porquanto
liga as comunidades à sua terra de origem, vencendo fronteiras e geografias.
Sinto-me hoje triste e
indignado. Que a ADN esteja em fase de contenção de custos, como estamos quase
todos, eu compreendo. Que isso implique dispensar funcionários, também
compreendo, embora me incomode, até porque conheço quase todos e sou amigo de
muitos. O que não compreendo é que essa contenção se reflicta numa área tão
importante para o concelho e para as suas gentes, num projecto assegurado a tempo inteiro e de
forma remunerada por apenas uma funcionária, com custos que não deverão ser
elevados. Não seria possível proceder a esse corte numa outra área, num outro
projecto, em que estejam envolvidas mais pessoas, sendo que tal não
implicaria o seu fim?
Triste e indignado, tenho
ainda a esperança de que os arautos da defesa da nossa identidade cultural, os
mesmos que em recentes Reuniões de Câmara, Assembleias Municipais e outros fórums tão alto
clamaram o seu apego a esse valor, saiam agora a terreiro em defesa do nosso
jornal, ainda que apenas em formato digital, sob pena de podermos e devermos
apontar-lhes o dedo e acusá-los de demagogia e hipocrisia.
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fonte: www.meioregional.pt
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