O Governo barafusta, teima,
jura pela alma de toda a família falecida e pela saúde da viva, por entre o “é
duro” de Paula Teixeira da Cruz e o “Ai aguenta, aguenta” de Fernando Ulrich, que
há que cortar 4 mil milhões de euros na despesa pública em 2013, na demanda do
Santo Graal dos tempos modernos, a meta do défice. Por despesa pública,
entenda-se cortes em muitos dos benefícios sociais a que ainda vamos tendo
direito, nunca no "core" do Estado,
jamais naquilo que o Estado gasta consigo próprio.
Por força da Lei 46/2005,
que limita a três os mandatos autárquicos, sem hipótese de recandidatura ao
mesmo órgão, há por aí umas boas dezenas de autarcas, autênticos dinossauros da
política nacional, verdadeiros pesos-pesados dos partidos do arco da governação
(mas não só), que vão ficar desempregados.
E daí, pensam vocês, o que tem
uma coisa a ver com a outra?
Deu entrada na Assembleia da
República, no passado dia 24 de Outubro, a Proposta de Lei 104/XII, assinada
pelo inefável José Relvas, que “Estabelece
o regime jurídico das autarquias locais, aprova o estatuto das entidades
intermunicipais, estabelece o regime jurídico da transferência de competências
do Estado para as autarquias locais e para as entidades intermunicipais e
aprova o regime jurídico do associativismo autárquico”.
Pois, continuam vocês a
pensar, mas que raio quer isso dizer?
Muita coisa. Mas destaco um
aspecto em particular: a alteração ao estatuto das Entidades Intermunicipais
(EI) (Áreas Metropolitanas e Comunidades Intermunicipais), nomeadamente no que
às Comissões Executivas diz respeito.
De acordo com a Proposta de
Lei, este órgão deverá ser constituído por um Primeiro-Secretário e por quatro
Secretários e será eleito por um colégio eleitoral, constituído por elementos
das Assembleias Municipais dos municípios que integrem a EI. A partir daqui é
que, como diz o povo, a porca torce o rabo!
Em primeiro lugar, quem é
que os meus caros amigos e amigas acham que vai ser sugerido para as Comissões
Executivas? Está bom de ver que tais cargos se adequam, quem nem uma luva, a gente
com grande e comprovada experiência nos meandros do poder local, ou seja,
ex-autarcas, e olha, coincidência das coincidências, tantos que vai haver em 2013! Em segundo lugar, todos estes cargos são remunerados, do seguinte
modo:
·
Primeiro-Secretário - remuneração igual a 45%
da remuneração base do Presidente da República; despesas de representação no
valor de 30% da sua remuneração base
·
Secretários - remuneração igual à remuneração base de vereador a tempo inteiro,
em regime de exclusividade, de câmara municipal de município com um número de
eleitores superior a 10 000 e inferior a 40 000; despesas de
representação no valor de 20% da sua remuneração base.
Trocando isto por miúdos,
temos as seguintes remunerações mensais:
Primeiro- Secretário -
2.935,00€ + 880,50€ = 3.815,50€
Secretários - 2.348,00€ +
470,00€ = 2.818,00€
Total da Comissão Executiva
- 15.087,50€ (x 13 = 196.137,50€)
Partindo do pressuposto que,
se e quando a Proposta de Lei for aprovada, se mantinha o actual número de AM e
CIM existentes em Portugal, num total de 25, teríamos um acréscimo à actual
despesa pública no valor de 4.903.438,50€. Ou seja, pouco mais de 1/1000 do
total que o Governo quer poupar no próximo ano.
Dir-me-ão que 1/1000 é uma
gota de água no oceano da despesa pública. Pois. O que eu sei é que esta medida
não diminui a despesa, aumenta-a. O que eu sei, é que ando a ouvir há ano e
meio, promessas de cortes nas gorduras do Estado, de renegociação das PPP, de
extinção e/ou cortes no financiamento das Fundações, de extinção e/ou saneamento
de Empresas Municipais. Ando a ouvir falar, mas ainda não vi nada! O que eu sei
é que, porque muitos barões vão ficar desempregados, porque há que satisfazer
clientelas partidárias, se cria uma nova estrutura de topo remunerada, se criam
tachos!
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