quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Palavras, leva-as o vento


 
Durante um jantar em Viana do Castelo, promovido pelo PSD de Barcelos, no dia 5 de Novembro de 2010, sete meses antes das últimas eleições legislativas, afirmava Pedro Passos Coelho, então líder da Oposição:

“Não podemos permitir que todos aqueles que estão nas empresas privadas ou que estão no Estado fixem objectivos e não os cumpram. Sempre que se falham os objectivos, sempre que a execução do Orçamento derrapa, sempre que arranjamos buracos financeiros onde devíamos estar a criar excedentes de poupança, aquilo que se passa é que há mais pessoas que vão para o desemprego e a economia afunda-se”

“Se nós temos um Orçamento e não o cumprimos, se dissemos que a despesa devia ser de 100 e ela foi de 300, aqueles que são responsáveis pelo resvalar da despesa também têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos seus atos e pelas suas acções. Quem impõe tantos sacrifícios às pessoas e não cumpre, merece ou não merece ser responsabilizado civil e criminalmente pelos seus actos?”

Este discurso foi fundamental na eleição de Pedro Passos Coelho. Entretanto, após dezasseis meses de governação, quantas destas palavras ganharam substância e tiveram consequências?

Houve uma auditoria geral às contas públicas? Houve uma renegociação séria das PPP’s, das EP’s  e de outros negócios ruinosos para o Estado? Algum responsável político foi levado à justiça? O Ministro das Finanças assumiu, na apresentação do Orçamento de Estado para 2012, um desvio de 3,4 mil milhões de euros no Orçamento de 2011. Nas suas palavras, tal deveu-se a “resulta do não cumprimento dos objectivos de redução dos efeitos e a desvios específicos na Educação, Administração Interna e Defesa”. Vão o Ministro da Justiça, o Primeiro-Ministro, o Governo, ser “civil e criminalmente responsabilizado pelos seus actos”?

Este Governo, eleito com os votos de um povo iludido, com ânsias de mudança, cuja demissão se discute abertamente, ferido por dissensões internas, impotente e ideologicamente espartilhado, que navega à vista, não passa na prática, neste momento, de um mero governo de gestão.

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