A partir de 2001, com as alterações então introduzidas pela Lei Orgânica 1/2001 (Lei Eleitoral dos Órgãos das Autarquias Locais), passou a ser possível a candidatura de grupos de cidadãos independentes às Assembleias e Câmaras Municipais. Atentemos nos resultados obtidos pelas candidaturas de listas de grupos de cidadãos nas eleições autárquicas de 2001, 2005 e 2009:
ANO
|
CÂMARA MUNICIPAL
|
||||
CONCELHOS
CONCORREU
|
MANDATOS
|
PRESIDENTES
|
MAIORIAS ABSOLUTAS
|
% VOTOS
|
|
2001
|
22
|
31
|
3
|
3
|
1.60
|
2005
|
27
|
45
|
7
|
4
|
2.47
|
2009
|
ND
|
67
|
7
|
3
|
4.07
|
ANO
|
ASSEMBLEIA MUNICIPAL
|
||||
CONCELHOS
CONCORREU
|
MANDATOS
|
PRESIDENTES
|
MAIORIAS ABSOLUTAS
|
% VOTOS
|
|
2001
|
ND
|
93
|
1
|
0
|
1.16
|
2005
|
25
|
121
|
5
|
1
|
2.15
|
2009
|
ND
|
224
|
ND
|
ND
|
3.70
|
ANO
|
ASSEMBLEIA DE
FREGUESIA
|
||||
FREGUESIAS
CONCORREU
|
MANDATOS
|
PRESIDENTES
|
MAIORIAS ABSOLUTAS
|
% VOTOS
|
|
2001
|
ND
|
2407
|
311
|
ND
|
4.44
|
2005
|
568
|
2200
|
292
|
260
|
4.57
|
2009
|
ND
|
2673
|
332
|
ND
|
6.12
|
Fonte:
http://www.eleicoes.mj.pt
ND:
dado não divulgado
Sendo
este um fenómeno relativamente recente, vem ganhando crescente importância de
eleição para eleição, quiçá encorajando o futuro aparecimento de outras candidaturas.
Estamos perante uma mudança de paradigma no panorama político português, pese
embora muitas candidaturas terem sido fruto de rivalidades e/ou incompatibilidades
pessoais ou partidárias, pouco interessadas no bem-estar colectivo e no
desenvolvimento municipal, antes promovendo interesses económicos específicos e
clientelas ou tentando ocultar irregularidades ocorridas no desempenho de
funções. Concedo que, de certo modo, esse facto minimiza o movimento, mas a
crescente procura desta forma de participação cívica por grupos de cidadãos é um
facto maior, que não passa despercebido, sendo sobretudo revelador de uma maior
consciência e maturidade politica dos que se recusam a aceitar de forma passiva
os formatos políticos previamente definidos.
Os
partidos, cada vez mais entidades fechadas e pouco representativas, sem
capacidade de renovação, continuam numa lógica muito própria de funcionamento,
arrogando-se o privilégio de conquistar o poder para executar o seu programa
político. Preocupa-os o aparecimento de candidaturas independentes que colocam
em causa esse monopólio que concomitantemente é motivo de descontentamento para
diretórios nacionais e clientes habituais. Ao mesmo tempo, não valorizando esta
nova realidade (ou fazendo ouvidos de mercador), descuram o sentimento daqueles
que são a parte mais importante desta equação: os eleitores.
Atentemos
agora nos resultados das eleições autárquicas realizadas em Nisa, entre 1976 e
2009:
LISTA
|
ANO DE ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS
|
|||||||||
1976
|
1979
|
1982
|
1985
|
1989
|
1993
|
1997
|
2001
|
2005
|
2009
|
|
AD
|
|
|
1
|
|
|
|
|
|
|
|
APU
|
|
1
|
2
|
3
|
|
|
|
|
|
|
CDS
|
1
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
CDU
|
|
|
|
|
3
|
2
|
3
|
2
|
3
|
2
|
FEPU
|
1
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
PPD
|
|
2
|
|
|
|
|
|
|
|
|
PRD
|
|
|
|
0
|
|
|
|
|
|
|
PS
|
3
|
2
|
2
|
2
|
1
|
2
|
2
|
1
|
1
|
2
|
PSD
|
|
|
|
|
1
|
1
|
0
|
2
|
1
|
1
|
ANO |
PRESIDENTE
|
LISTA
|
1976
|
António
Pires Bento
|
PS
|
1979
|
Carlos
Bento Correia
|
PS
|
1982
|
José Manuel
Semedo Basso
|
APU
|
1985
|
José
Manuel Semedo Basso
|
APU
|
1989
|
José
Manuel Semedo Basso
|
CDU
|
1993
|
José
Manuel Semedo Basso
|
CDU
|
1997
|
José
Manuel Semedo Basso
|
CDU
|
2001
|
Maria
Gabriela Pereira Menino Tsukamoto
|
CDU
|
2005
|
Maria
Gabriela Pereira Menino Tsukamoto
|
CDU
|
2009
|
Maria
Gabriela Pereira Menino Tsukamoto
|
CDU
|
Fonte:
http://www.eleicoes.mj.pt
Perante
este cenário, arrancar com uma candidatura independente, num concelho como
Nisa, anestesiado por 30 anos de “ditadura” do PCP/CDU, quer com maioria absoluta,
quer com voto de qualidade assegurado, onde a mobilização dos cidadãos é quase
inexistente, não é fácil. Recolher assinaturas de proponentes (no caso de
candidatura à CMN seriam cerca de 350), atrair mandatários, atrair pessoas
válidas e competentes para as listas (para a CMN seriam 7 e para a AMN seriam
22), financiar a campanha, por incipiente que fosse, por de pé uma estrutura
até Agosto de 2013, mês em que as listas de candidatura são normalmente
entregues em Tribunal, são questões que se revelam difíceis embora
ultrapassáveis.
A
corrida já começou. Os partidos, ou pelo menos as facções dentro destes, já
começaram a movimentar-se, convidando e desconvidando, sugerindo e ignorando,
em busca dos melhores candidatos. Para PS e PSD, as próximas eleições apresentam-se
como a primeira oportunidade desde 1982 para, realisticamente, obterem a
presidência da Câmara de Nisa. O PCP/CDU está claramente em fim de ciclo e, a
menos que apresente uma candidatura extremamente forte, embora eu não vislumbre
qual poderia ela ser, estará fora da corrida pela principal posição.
Dito
isto, sou de opinião que existe em Nisa espaço para a presentação de uma
candidatura independente, isenta de vícios e clientelas, capaz de pensar “out
of the box”, liberta de espartilhos partidários e com capacidade para dirigir
os destinos do concelho no próximo quadriénio. Temos gente válida, com provas
dados em muitos e distintos sectores de actividade. Assim haja também vontade e
coragem para avançar.
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