Nos últimos 30 anos os
estudantes e professores deste país têm servido de cobaias, com os
estabelecimentos de ensino a servirem de tubos de ensaio, ao sabor do capricho
de cada governo que entrou em funções, num afã de desfazer, no todo ou em parte,
as políticas de educação do governo anterior. Por outro lado, gerações de pais,
com a mais honrada e louvável das intenções, pretenderam que os seus filhos se
tornassem doutores, naquele sentido muito lato que em Portugal tem essa designação,
numa atitude há muito inculcada nos seus espíritos, de busca de promoção
económica, cultural e, sobretudo, social. Passados estes 30 anos o país pulula de
canudos e doutores e é quase unânime a opinião de que os jovens de hoje são os
mais bem preparados de sempre.
Permitam-me que discorde: a grande
maioria dos cursos superiores que os nossos jovens ostentam não valem dez réis
de mel coado, boa parte das instituições de ensino superior ministram um ensino
medíocre, com os níveis inferiores de ensino a viverem tempos de frustração e
desmotivação. A demonstração disto está no valor do desemprego entre licenciados,
que se situa à data em que escrevo nos 10,6%, atingindo cerca de 108.000
portugueses, dos quais cerca de 75.500 são jovens com menos de 25 anos.
Vem esta introdução a
propósito da notícia hoje veiculada, segundo a qual o Governo prepara novos
cursos de ensino vocacional, orientados para a formação em áreas profissionais
concretas, sendo isto anunciado em jeito de descoberta da pólvora.
Acontece que, quando entrei
no ensino secundário, na cidade onde residia, a exemplo de quase todas as
cidades e vilas deste país com este nível de ensino, existiam dois
estabelecimentos: o Liceu e a Escola Industrial e Comercial, embora já ambos
com a designação de Escola Secundária. Comecei por frequentar a última, onde
existiam, em quase absoluto desperdício, óptimas oficinas de electricidade,
serralharia e carpintaria, sendo ainda possível obter formação média (aquilo
que hoje se designa por Nível 3 ou 4) em Secretariado e Contabilidade.
Ou seja, o ensino
profissional foi algo que já existiu e foi extinto. Descoberta da pólvora? Não,
apenas um “mea culpa” que, por muito tardio, nada fará por gerações de pais que
investiram no futuro dos seus filhos apenas para verem defraudadas as suas
expectativas ou por gerações de estudantes que viram ser-lhes impedida a
hipótese de optarem por outro modelo de ensino, levando-os a abandonar a escola
ou a obterem licenciaturas em cursos da treta.
Não estou a fazer a apologia
do ensino durante o regime anterior, no geral enfadonho e desinteressante,
assente sobretudo na memorização mecânica de conteúdos, em detrimento da
inteligência dinâmica. O que defendo é que, neste particular, se passou do 8 ao
80, sem sentido de Estado, responsabilidade social ou visão de longo prazo, algo
a que a alegre alternância do bloco central nos habituou, em sectores da sociedade
e economia que exigiam outra postura e seriedade. Não gosto que me atirem areia
para os olhos.
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