quarta-feira, 19 de outubro de 2011

TERNISA - Crónica de uma morte anunciada

Se bem percebi, porque às vezes o discurso dos nossos eleitos é tudo menos linear e eu fico sem saber se falam de alhos ou bugalhos, a Câmara Municipal de Nisa vai apresentar à Assembleia Municipal a proposta de extinção da Ternisa, E.M.

Se essa proposta for favoravelmente votada pela Assembleia Municipal, tal terá como efeito a convocação de uma Assembleia Geral da Ternisa, na qual a Câmara, enquanto accionista (largamente) maioritário, proporá e obterá a extinção da Empresa. Seguir-se-á a nomeação de uma Comissão Liquidatária que tratará de liquidar o respectivo património e apresentar sugestões quanto ao futuro das instalações.
A bem do politicamente correcto, da separação das águas e da tranquilidade dos munícipes, foi sendo repetidamente afirmado que a extinção da empresa não significa a extinção das termas. Certo. Na prática porém, e na falta presente de solução alternativa, esta decisão corresponde ao encerramento da Termas de Nisa, sem prejuízo da possibilidade de estas reabrirem, de acordo com um novo modelo de gestão.
Baralhando e dando de novo: ao fim de várias Reuniões de Câmara, perante o acumular do passivo da Ternisa, decidiu o executivo estancar a sangria desatada de dinheiro que não tem. Com um passivo actual da ordem do milhão de euros, sem levar em conta nem em contas, algo estranho e cuja legalidade questiono, o facto de a empresa não pagar renda ao município, enquanto este paga à EDP a sua factura da electricidade (que não deve ser leve), outra coisa não seria de esperar. Em minha opinião, esta decisão peca até por tardia. Por outro lado continua o sacudir de água do capote, remetendo-se agora para a futura Comissão Liquidatária a apresentação de soluções para o destino a dar ao edifício e o seu futuro modelo de gestão.
Acho curioso que uma Câmara em que a Presidente e o único Vereador a tempo inteiro foram eleitos pela CDU, coligação que malhou forte e feio no anterior Governo, continuando a malhar no actual, acusando-os de não terem tomado decisões em tempo útil e de estarem a ferir de morte a economia para salvaguardar as finanças, faça precisamente o mesmo.
As novas instalações das Termas de Nisa foram inauguradas a 1 de Agosto de 2009, depois de parto longo e doloroso. Recordo-me de logo nesse ano, em Assembleia Municipal, terem sido lançados vários alertas ao executivo. Durante todo o ano de 2010 por várias vezes o assunto foi de novo abordado, quer em Assembleia Municipal quer em Reunião de Câmara. Finalmente, em Outubro de 2011, mais de 2 anos depois da inauguração do complexo termal, é tomada uma decisão.
A Câmara resolve, ou pelo menos mitiga, o seu problema financeiro. Mas a que custo? Continua a adiar a solução do problema enquanto encerra a empresa, despede trabalhadores e lesa o já débil tecido empresarial do concelho.
Se estiver enganado, haja quem me corrija.
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Nota: "Crónica de uma Morte Anunciada" é o título de uma obra de Gabriel Garcia Marquez, uma narrativa bem estruturada, simples e viciante, cuja leitura recomendo.

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