quarta-feira, 9 de março de 2011

Toca a despertar!

Esta manhã, enquanto via as notícias na televisão, não pude deixar de prestar especial atenção às palavras proferidas pelo Presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, Carlos Miguel, quando questionado acerca do facto de a autarquia ter investido 500 mil euros nos festejos do Carnaval deste ano. A resposta do autarca foi exemplar: esperando-se cerca de 300.000 visitantes, e partindo do pressuposto que cada um destes gasta, em média, 10 euros na localidade, são injectados na economia local 3 milhões de euros. Este ano, segundo as últimas estimativas, devido ao mau tempo não terão estado em Torres Vedras mais de 150 mil visitantes, mas, ainda assim, a receita gerada pelo Carnaval terá rondado 1,5 milhões de euros.

A realidade do concelho de Nisa, desde há algum tempo atrás, é substancialmente diferente: com o argumento da poupança, vai-se desinvestindo. Não pretendo desperdiçar mais tempo a tentar explicar a diferença entre poupança e desinvestimento a quem desse assunto tem por obrigação saber mais do que eu. Mas atentemos nisto: a NISARTES, evento maior do concelho de Nisa, e aquele que mais visitantes atrai, injectando na economia local largos milhares de euros, tem um orçamento de despesa previsto para a edição deste ano de 500 mil euros, verba igual à dispendida no Carnaval de Torres, embora com capacidade de atracção muito inferior. Logo aqui se põe uma questão: é, de facto, necessário um orçamento tão elevado? Temos ainda um senão: o financiamento não está assegurado, presumindo eu que o evento tenha sido candidatado a um qualquer programa comunitário, cuja atribuição de fundos não está ainda garantida. Chamando os bois pelos nomes, ou entra dinheiro de fora ou a IV NISARTES volta a ficar em águas de bacalhau, lesando, de novo, os interesses do concelho.

O desinvestimento e o desinteresse não se resumem à NISARTES. Tive este fim-de-semana o prazer de colaborar com uma empresa de Setúbal que organizou duas caminhadas no nosso concelho: no sábado foi visitada a zona do Arneiro/Portas de Ródão e no domingo caminhou-se na raia, na zona de Montalvão. Deslocaram-se a Nisa, em ambos os dias, cerca de 60 pessoas, tendo a maioria destas por cá pernoitado 2 noites, o que significa que também por aqui fizeram pelo menos 3 refeições, gastando cada uma, em média, cerca de 50 euros. Num fim-de-semana entraram no concelho cerca de 3.000 euros. Não é muito? Pois não, mas são mais 3.000 euros do que no ano passado, valor interessante para a economia local, numa época do ano em que poucos visitantes recebemos.

Em conversa com o Director da Empresa que organizou a actividade, soube que a CMN foi contactada há algum tempo, solicitando uma reunião com a respectiva Presidente, para apresentar a Empresa e tentar o estabelecimento de uma parceria estratégica que permita consolidar este produto e a sua expansão. Até ao passado Domingo nenhuma resposta foi recebida, o que me dá liberdade para concluir que ou a CNM anda a dormir ou, sem que eu o saiba, tem listas de espera de empresas interessadas em investir no concelho.

Pende sobre as Termas de Nisa, suposto projecto-âncora do há muito anunciado salto em frente do turismo, a que, recordo aqui, se resume o plano de desenvolvimento estratégico do concelho, a ameaça de se tornar em mais um elefante branco. Continua a sangria de jovens, que rumam a outros destinos em busca de melhor sorte, encerram empresas enquanto outras sobrevivem a custo, e a CMN anda a dormir na forma. A Naturtejo continua a tratar o concelho abaixo de cão, um potencial parceiro estratégico não obtém resposta a um pedido de reunião, o barco para passeios turísticos no Tejo Internacional aportou hoje a Cedillo (que entretanto começou a formar gente na área da interpretação turística e ambiental e tem quase concluída a construção de alguns “bungallows”, na zona da Machiera, preparando-se para receber visitantes), e a empresa que o explora não foi ainda contactada pela nossa autarquia, ao contrário do que fizeram Marvão e Castelo de Vide.

Nos últimos meses as preocupações da CMN quase se têm cingido à apresentação do Orçamento e ao Mapa de Pessoal da Autarquia, enquanto a sustentabilidade e o desenvolvimento económico do concelho foram relegados para segundo plano. Caros autarcas: se ainda não perceberam, a CMN existe para servir o concelho e os munícipes, devendo estes, e não a sua orgânica e funcionamento interino, constituir a vossa maior preocupação. Resolvam lá a vossa vida, que vai sendo tempo de começarem a olhar pela nossa!

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