O meu avô materno, conhecido lá na terra por Ti Zé Cantoneiro, como muitos da sua geração, era homem pouco instruído. Fosse hoje e teria entrado para um qualquer curso universitário depois de meia dúzia de meses a frequentar um Centro Novas Oportunidades, mas apenas aprendeu a escrever o seu nome e a distinguir os algarismos, já adulto, para poder aceder à Função Pública. Mas adiante, que isso são contas doutro rosário. Homem de poucas palavras, a menos que se falasse do seu amado clube, oportunidade para largar a enumerar glórias passadas e a desancar no arqui-inimigo do outro lado da 2ª Circular, tinha na vida uma postura prática e ideias desempoeiradas, que o levavam a cortar cerce conversas da treta com um rotundo “deixem-se de merdas!”.
Todos os dias sou bombardeado, é essa a expressão que me ocorre, com brados de ministros, líderes da oposição, deputados e candidatos presidenciais. Depois levo com urros de ex-ministros das finanças e economia, doutos professores, comentadores políticos e “opinion makers”, gritos de alarme de líderes sindicais e patronais, gestores bancários e, “last but not least”, ainda tenho que ouvir as sirenes de Bruxelas, da OCDE e do FMI. Todos citam dados, estatísticas, números e valores elevadíssimos, falam de taxas de juro, “spreads”, capacidade de endividamento, duodécimos, taxa de desemprego, poder de compra e outras tantas pérolas da linguagem do dinheiro. Estranhamente, nunca bate a bota com a perdigota, cada qual a discordar do interlocutor, todos postados em altas e ebúrneas torres de sapiência, alicerçadas em pilhas de relatórios do INE, do Banco de Portugal, da UE ou de uma qualquer correctora.
Tanta sapiência junta não conseguiu prever o estouro da bolha especulativa dos mercados imobiliários e financeiros, a crise económica, a recessão, tendo-se limitado todos a fazer prognósticos depois do fim do jogo. Perante isto, pergunto a mim próprio que capacidade terão agora para encontrar soluções capazes de inverter esta espiral descendente em que nos encontramos. Ferramenta essencial para combater a crise em Portugal é a elaboração e aprovação de um Orçamento de Estado pragmático, o mais consensual possível e, acima de tudo, exequível. E que temos nós? A sarrabulhada do costume, com toda a gente a dar-se ares de dama ofendida na honra ou a tentar gritar mais alto que o vizinho, coisa a que já estamos habituados, mas a que, nesta conjuntura, a bem da todos, conviria pôr termo.
É chegado o tempo de pôr de lado agendas pessoais, questiúnculas partidárias, ódios de estimação, pactos secretos, alianças dúbias. É tempo de arregaçar mangas e deitar mãos ao trabalho. É tempo de, por uma vez que seja, os números e as estatísticas coincidirem, as políticas serem claras, uníssonas e terem objectivos de médio e longo prazo. É tempo de esquecer a data de eleições que se avizinham e deixar de contar espingardas. É tempo de a expressão "sentido de Estado" deixar de ser uma frase feita de sentido oco.
Ou seja, como diria o Ti Zé Cantoneiro, é tempo de se deixarem de merdas! E façam-me um favor: deixem de ler estatísticas e comecem a ler o “Borda d’Água”: também raramente acerta nas previsões, mas, pelo menos, daí não vem mal ao mundo.
Todos os dias sou bombardeado, é essa a expressão que me ocorre, com brados de ministros, líderes da oposição, deputados e candidatos presidenciais. Depois levo com urros de ex-ministros das finanças e economia, doutos professores, comentadores políticos e “opinion makers”, gritos de alarme de líderes sindicais e patronais, gestores bancários e, “last but not least”, ainda tenho que ouvir as sirenes de Bruxelas, da OCDE e do FMI. Todos citam dados, estatísticas, números e valores elevadíssimos, falam de taxas de juro, “spreads”, capacidade de endividamento, duodécimos, taxa de desemprego, poder de compra e outras tantas pérolas da linguagem do dinheiro. Estranhamente, nunca bate a bota com a perdigota, cada qual a discordar do interlocutor, todos postados em altas e ebúrneas torres de sapiência, alicerçadas em pilhas de relatórios do INE, do Banco de Portugal, da UE ou de uma qualquer correctora.
Tanta sapiência junta não conseguiu prever o estouro da bolha especulativa dos mercados imobiliários e financeiros, a crise económica, a recessão, tendo-se limitado todos a fazer prognósticos depois do fim do jogo. Perante isto, pergunto a mim próprio que capacidade terão agora para encontrar soluções capazes de inverter esta espiral descendente em que nos encontramos. Ferramenta essencial para combater a crise em Portugal é a elaboração e aprovação de um Orçamento de Estado pragmático, o mais consensual possível e, acima de tudo, exequível. E que temos nós? A sarrabulhada do costume, com toda a gente a dar-se ares de dama ofendida na honra ou a tentar gritar mais alto que o vizinho, coisa a que já estamos habituados, mas a que, nesta conjuntura, a bem da todos, conviria pôr termo.
É chegado o tempo de pôr de lado agendas pessoais, questiúnculas partidárias, ódios de estimação, pactos secretos, alianças dúbias. É tempo de arregaçar mangas e deitar mãos ao trabalho. É tempo de, por uma vez que seja, os números e as estatísticas coincidirem, as políticas serem claras, uníssonas e terem objectivos de médio e longo prazo. É tempo de esquecer a data de eleições que se avizinham e deixar de contar espingardas. É tempo de a expressão "sentido de Estado" deixar de ser uma frase feita de sentido oco.
Ou seja, como diria o Ti Zé Cantoneiro, é tempo de se deixarem de merdas! E façam-me um favor: deixem de ler estatísticas e comecem a ler o “Borda d’Água”: também raramente acerta nas previsões, mas, pelo menos, daí não vem mal ao mundo.
2 comentários:
Grande homem o Ti Zé Cantoneiro !!!
Sei que não tem nada a ver mas parabéns companheiro
Um abraço Pimpão
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