quinta-feira, 1 de julho de 2010

Apelo


O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, apresentou hoje os Certificados do Tesouro, o novo produto de poupança do Estado, salientando que o aumento da taxa de poupança das famílias é essencial para o reforço da capacidade de investimento da economia portuguesa e também para a redução do endividamento externo do país. O produto será remunerado acima de 5,5% ao final de 10 anos, capitalização máxima obtida, sendo que a menos de 5 anos não é particularmente interessante, ultrapassado por outros produtos financeiros, quer da banca que do próprio Estado.

Trocando isto por miúdos, o que Estado Português pretende é que o povo português lhe empreste dinheiro, a um juro interessante se a longo prazo, para resolver os seus problemas imediatos de liquidez. Assim uma coisa do género de eu ir pedir dinheiro ao meu vizinho para pagar as contas do dia-a-dia, o que me resolve um problema, mas me deixa com outro, se entretanto não encontrar maneira de aumentar os meus rendimentos.

Provavelmente para nos enternecer, Teixeira dos Santos fez  um apelo a todos os portugueses para fazerem um esforço adicional de poupança, afirmando que  "os problemas com que o país se confronta resolver-se-ão em grande medida com o esforço acrescido de poupança de todos nós”.

Já pagamos IRS, SS, IVA (desde hoje acrescido), IMI, IUC, IS, vão ocorrer cortes no Subsídio de Desemprego e no Subsídio Social de Reinserção, a idade da reforma continua a aumentar, a taxa de desemprego soma e segue, querem que paguemos ainda mais portagens e Teixeira dos Santos apela??

Pedir ao comum cidadão de classe média em Portugal, cujo salário bruto ronda os 900 euros, que cumpre todas as suas obrigações fiscais, tem um filho em idade escolar e está a pagar um empréstimo à habitação, que adquira Certificados do Tesouro para ajudar a resolver uma crise provocada pela especulação financeira e por décadas de má governança é, no mínimo, vergonhoso.

Teixeira dos Santos deveria vestir-se de negro e cobrir-se de cinza antes de ter a lata de fazer esta proposta aos portugueses, cujo cinto se aperta cada vez mais, sem vista de réstia de luz ao fundo do túnel.
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