Os rios têm desempenhado, ao longo dos milénios, importante papel na história da humanidade. Foi junto de rios que as primeiras comunidades sedentárias se radicaram, em busca de água e solos férteis, por eles subiram exploradores à descoberta de novos territórios, verdadeiras muralhas naturais foram defesa contra invasões, por eles navegaram mercadores. Sobre eles se construíram pontes, unindo territórios, facilitando o trânsito de pessoas e mercadorias, de saberes e fazeres. Finalmente vieram as barragens, que os domaram e manietaram, convertendo em energia útil a sua desaproveitada força bruta.
O Concelho de Nisa é limitado a oeste e a norte pelo rio Tejo, a leste pelo Sever. O Tejo une-nos à Beira, o Sever afasta-nos de Espanha.
A passagem para Espanha, para a localidade mais próxima, Cedillo, só é possível atravessando-se a barragem que dela tomou o nome. Esta barragem é particular, propriedade da empresa espanhola IBERDROLA, que só permite o seu atravessamento, nos meses de Julho, Agosto e Setembro, entre as 10:00 horas de Sábado e as 24:00 de Domingo, horário que é reduzido para as 22:00 de Domingo, nos restantes messes do ano.
O ridículo desta fronteira peculiar vai ao ponto de, havendo alguma reunião entre autarcas do Ayuntamiento de Cedillo e autarcas de Castelo Branco, Vila Velha de Ródão ou Nisa, estes terem de passar o Sever ou o Tejo… no barco de um qualquer pescador! Ou, estando eu “tomando unas copas” com amigos, e não reparando nas horas, ter que andar seca e Meca para regressar a casa.
Cedillo dista 117km de Cáceres, capital da Diputación de que depende administrativamente, e 423km de Madrid. De Lisboa dista 302 km, 158km de Castelo Branco, 20km de Nisa. Os seus cerca de 600 habitantes demandam as localidades portuguesas mais próximas para coisas tão simples como comprar bens de primeira necessidade. É raro o fim-de-semana em que num qualquer supermercado de Nisa não ouço, de repente, um “- Bom dia José, que tal?”.
Mais vezes viriam, ou iríamos nós a Cedillo, e por mim falo, que por lá teci cumplicidades e construí amizades. Mas para tal é necessário que se faça um percurso de 104km, com passagem pela Portagem (Marvão) e Valéncia de Alcantara.
Temos portanto uma fronteira privada, coisa que creio inaudita em toda a União Europeia, em que uma todo-poderosa empresa impede os cidadãos, a quem cobra a electricidade gerada pela barragem, de aí passarem sem limitações. Cedillo é uma aldeia pequena, afastada dos corredores do poder e dos centros de decisão, sem força para forçar uma decisão política, um Don Quijote que luta impotente contra moinhos de vento inexpugnáveis. Mas continua a sua luta, como ainda recentemente pude ver, no cartaz, espalhado por Nisa, que anuncia a realização da “XVI Matanza Internacional”, e onde tive modesta mas orgulhosa participação, ou em regulares reivindicações dos seus eleitos, quer junto do poder central espanhol, quer através dos meios de comunicação social. E do lado português, nomeadamente da parte da Câmara Municipal de Nisa, o que tem sido feito?
Creio estar bem informado acerca dos assuntos nossa autarquia: consulto regularmente a sua página na internet, leio as actas das Reuniões de Câmara e das Assembleias Municipais, o Orçamento e Plano em cada novo ano. Mas, que seja do meu conhecimento, do conhecimento público, vão passando os anos e não me apercebo de iniciativa alguma. Vejo, isso sim, uma certa frieza nas relações institucionais entre os responsáveis pelo governo local de Nisa e de Cedillo, cujas razões desconheço. Os povos de ambos os lados da fronteira reúnem-se, confraternizam, promovem iniciativas, enquanto os responsáveis políticos permanecem de costas voltadas. Como disse uma vez a um desses responsáveis, não quero que se casem, até porque já são ambos casados, mas esta indiferença não pode continuar por muito mais tempo, dado o evidente prejuízo que daí resulta para as populações que representam.
A união faz a força, e é importante que o Município de Nisa e o Ayuntamiento de Cedillo unam esforços para a resolução deste e de outros problemas e que nesse esforço envolvam a população. Quer seja forçando-se a IBERDROLA a manter a barragem aberta sem limitações, quer solicitando-se a construção de uma ponte, algo tem de ser feito.
Aproxima-se a data de realização de dois eventos que marcam a vida raiana do Alto Alentejo: a “XVI Matanza Internacional”, dia 6 de Março, e a “XI Rota do Contrabando/Ruta del Contrabando”, dia 20 de Março, o primeiro uma iniciativa do Ayuntamiento de Cedillo, o segundo uma iniciativa da INIJOVEM, com a colaboração de ambas as autarquias. Qualquer um destes eventos seria uma óptima altura para os autarcas imitarem quem os elegeu: darem as mãos e começarem a trabalhar em conjunto. Fica aqui o desafio.
O Concelho de Nisa é limitado a oeste e a norte pelo rio Tejo, a leste pelo Sever. O Tejo une-nos à Beira, o Sever afasta-nos de Espanha.
A passagem para Espanha, para a localidade mais próxima, Cedillo, só é possível atravessando-se a barragem que dela tomou o nome. Esta barragem é particular, propriedade da empresa espanhola IBERDROLA, que só permite o seu atravessamento, nos meses de Julho, Agosto e Setembro, entre as 10:00 horas de Sábado e as 24:00 de Domingo, horário que é reduzido para as 22:00 de Domingo, nos restantes messes do ano.
O ridículo desta fronteira peculiar vai ao ponto de, havendo alguma reunião entre autarcas do Ayuntamiento de Cedillo e autarcas de Castelo Branco, Vila Velha de Ródão ou Nisa, estes terem de passar o Sever ou o Tejo… no barco de um qualquer pescador! Ou, estando eu “tomando unas copas” com amigos, e não reparando nas horas, ter que andar seca e Meca para regressar a casa.
Cedillo dista 117km de Cáceres, capital da Diputación de que depende administrativamente, e 423km de Madrid. De Lisboa dista 302 km, 158km de Castelo Branco, 20km de Nisa. Os seus cerca de 600 habitantes demandam as localidades portuguesas mais próximas para coisas tão simples como comprar bens de primeira necessidade. É raro o fim-de-semana em que num qualquer supermercado de Nisa não ouço, de repente, um “- Bom dia José, que tal?”.
Mais vezes viriam, ou iríamos nós a Cedillo, e por mim falo, que por lá teci cumplicidades e construí amizades. Mas para tal é necessário que se faça um percurso de 104km, com passagem pela Portagem (Marvão) e Valéncia de Alcantara.
Temos portanto uma fronteira privada, coisa que creio inaudita em toda a União Europeia, em que uma todo-poderosa empresa impede os cidadãos, a quem cobra a electricidade gerada pela barragem, de aí passarem sem limitações. Cedillo é uma aldeia pequena, afastada dos corredores do poder e dos centros de decisão, sem força para forçar uma decisão política, um Don Quijote que luta impotente contra moinhos de vento inexpugnáveis. Mas continua a sua luta, como ainda recentemente pude ver, no cartaz, espalhado por Nisa, que anuncia a realização da “XVI Matanza Internacional”, e onde tive modesta mas orgulhosa participação, ou em regulares reivindicações dos seus eleitos, quer junto do poder central espanhol, quer através dos meios de comunicação social. E do lado português, nomeadamente da parte da Câmara Municipal de Nisa, o que tem sido feito?
Creio estar bem informado acerca dos assuntos nossa autarquia: consulto regularmente a sua página na internet, leio as actas das Reuniões de Câmara e das Assembleias Municipais, o Orçamento e Plano em cada novo ano. Mas, que seja do meu conhecimento, do conhecimento público, vão passando os anos e não me apercebo de iniciativa alguma. Vejo, isso sim, uma certa frieza nas relações institucionais entre os responsáveis pelo governo local de Nisa e de Cedillo, cujas razões desconheço. Os povos de ambos os lados da fronteira reúnem-se, confraternizam, promovem iniciativas, enquanto os responsáveis políticos permanecem de costas voltadas. Como disse uma vez a um desses responsáveis, não quero que se casem, até porque já são ambos casados, mas esta indiferença não pode continuar por muito mais tempo, dado o evidente prejuízo que daí resulta para as populações que representam.
A união faz a força, e é importante que o Município de Nisa e o Ayuntamiento de Cedillo unam esforços para a resolução deste e de outros problemas e que nesse esforço envolvam a população. Quer seja forçando-se a IBERDROLA a manter a barragem aberta sem limitações, quer solicitando-se a construção de uma ponte, algo tem de ser feito.
Aproxima-se a data de realização de dois eventos que marcam a vida raiana do Alto Alentejo: a “XVI Matanza Internacional”, dia 6 de Março, e a “XI Rota do Contrabando/Ruta del Contrabando”, dia 20 de Março, o primeiro uma iniciativa do Ayuntamiento de Cedillo, o segundo uma iniciativa da INIJOVEM, com a colaboração de ambas as autarquias. Qualquer um destes eventos seria uma óptima altura para os autarcas imitarem quem os elegeu: darem as mãos e começarem a trabalhar em conjunto. Fica aqui o desafio.
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