As pedras têm as formas e as cores das coisas no princípio dos tempos. Montanhas ergueram-se dos abismos, o sol e os ventos e as águas e as coisas vivas açoitaram-nas, submeteram-nas e derrotaram-nas em planícies e escorraçaram-nas de volta aos abismos; a pressão esmagou-as e o velho fogo que se vai extinguindo voltou a erguê-las e as formas e as cores alteraram-se sem deixarem de ser as mesmas e mil vezes o ciclo se repetiu.
E o bípede destro, que de todas as outras coisas vivas se distingue por uma compulsiva ânsia de medir, classificar e etiquetar, chamou nomes às pedras. E as pedras passaram a ser comuns e a chamar-se basalto e granito e xisto, e raras e a chamar-se platina e prata e ouro.
As pedras comuns têm destinos servis e acabam esmilhadas e talhadas e chamam-se estradas e casas e lousas. As pedras raras têm destinos enobrecidos e vaidosos e chamam-se moeda e anel e pulseira.
E o sol e os ventos e as águas e as coisas vivas, que os nomes desconhecem e não distinguem a pedracasa da pedramoeda, de novo as submetem e escorraçam de volta ao abismo.
E de novo o ciclo se repete, apesar dos infrutíferos esforços do bípede destro.
1 comentário:
não interrompas a "série"...
:)
Enviar um comentário