
Construí a vida que tenho por sobre os escombros de sonhos desfeitos. Como as novas civilizações que constroem por sobre os escombros das que as antecederem.
Aí como em mim é preciso escavar camada após camada, isolar substrato por substrato os vestígios de antanho. Aí como em mim encontram-se fragmentos de coisas que um dia foram úteis ou belas ou tão só frívolos adornos. Restos de vidas passadas, restos de gentes passadas, restos de sentimentos passados.
Como se constrói sobre os escombros muitas vezes ainda envoltos na núvem de pó da derrocada recente? Como se consegue calcar o chão e seguir em frente?
Digo-vos como. Só existem dois modos: com a cegueira da força ou com a força da cegueira - somos fortes e isso faz-nos avançar como se o amanhã não existisse ou fechamos os olhos e deixamo-nos ir sem medos porque não vemos os obstáculos que se atravessam à nossa frente.
Repetidamente somos larva, ninfa e borboleta. Nascemos e morremos mil vidas numa só.
Somos Ícaro num incessante refazer de asa.
foto: José Carlos
3 comentários:
Tão bonito, tanta força para recomeçar, sempre! - beijo, IO.
Soberbo, Zé Carlos! Clara
Alinho com as pitinhas: bonito, soberbo
Enviar um comentário